O Rrock não acabou! Moptop, que marcou o indie rock nos anos 2000, anuncia retorno improvável
Moptop/Divulgação

O Rock não acabou! Moptop, que marcou o indie rock nos anos 2000, anuncia retorno improvável

Era uma época de cabelos desarrumados, jeans justos e guitarras com distorções sujas. Os anos 2000 foram marcados por uma explosão do indie rock, e o Brasil não ficou de fora. Enquanto The Strokes, Interpol e Arctic Monkeys dominavam as paradas internacionais, um quarteto carioca surgia com um som que misturava influências gringas e uma vibe própria. O Moptop, apelidado de “Strokes brasileiro”, não só surfou essa onda como se tornou um dos nomes mais relevantes do cenário independente nacional. Agora, 15 anos depois do último show, a banda anuncia seu retorno com música nova, disco inédito e um aguardado reencontro com o palco.

O comeback não poderia ser mais simbólico. O single “Last Time” chegou sem aviso, seguido pelo anúncio do álbum “Ghosts”, previsto para maio, e um show marcado para 12 de julho no Augusta Hi-Fi, em São Paulo. Para os fãs que cresceram ouvindo “O Rock Acabou” e “Sempre Igual”, onde os clipes tocavam incessantemente na MTV, a notícia soa como um resgate de uma época em que o indie rock era a trilha sonora da juventude.

De volta às origens

A volta do Moptop não foi planejada – foi um acaso. Gabriel Marques, vocalista e guitarrista, passou mais de uma década longe dos palcos, dedicando-se à vida de pai, marido e profissional na Amazon Music, em Seattle. Até que, em um daqueles momentos de nostalgia, ele decidiu presentear-se com um violão novo. E, como num passe de mágica, as canções começaram a surgir.

“Fazia mais de dez anos que eu não pegava numa guitarra. Me dei um violão de presente, e, inacreditavelmente, as músicas começaram a vir, uma atrás da outra”, conta Gabriel, em entrevista para o Terra“Havia muitos motivos para não voltar – trabalho, família, a distância entre nós… Mas sentimos que precisávamos fazer isso acontecer

A distância, aliás, era um obstáculo e tanto. Enquanto Gabriel está nos Estados Unidos (EUA), o guitarrista Rodrigo Curi vive na Austrália. O baixista Daniel Campos e o baterista Mario Mamede permanecem no Brasil. As gravações do novo álbum foram feitas à distância, com arquivos trocados pela internet – uma realidade bem diferente dos tempos em que o Moptop ensaiava no Rio e viajava o país para shows lotados.

Quando o rock (parecia ter) acabado

Nos anos 2000, o Moptop era uma das bandas independentes mais badaladas do Brasil. Com um som que lembrava The Strokes, mas com letras em português e uma identidade própria, eles rapidamente conquistaram espaço. A Universal Music apostou neles, e logo estavam abrindo shows para nomes como Oasis, Franz Ferdinand e Placebo.

“A gente tinha sido indicado para Melhor Site de Música no South By Southwest. E a gente teve que escolher entre ir para lá ou fazer a abertura do Oasis”, lembra Gabriel em papo com o jornalista Braulio Lorentz, do G1.

Mas também tinha o outro lado: “Quando eu tinha meus 20 e poucos anos eu adorava, achava um barato. Mas você vai ficando um pouco mais velho e vai cansando um pouco”, completou.

Em 2010, após sete anos de estrada, o Moptop deu adeus. Na época, Gabriel já sentia que a banda tinha dito o que precisava. “O primeiro disco foi muito fácil de fazer […]. O segundo disco já foi um pouco mais difícil […] E aí, para um terceiro, eu lembro que eu pensava… [risos] Para fazer um disco, eu estaria fazendo plágio de mim mesmo”, completou.

Um álbum sobre recomeços

O novo disco, Ghosts, chega como uma surpresa até para os integrantes. Todas as faixas são em inglês – uma escolha que pode facilitar uma possível incursão internacional, mas que também reflete as influências da banda. “Last Time”, o primeiro single, tem aquele clima clássico do Moptop: guitarras afiadas, melodia grudenta e letras que flertam com a melancolia.

Apesar da pausa, a essência continua a mesma. “A gente não quis forçar nada. Se soasse natural, ia pra frente. Se não, descartávamos”, explica Gabriel. O processo de composição foi orgânico, quase como se o tempo tivesse dado a eles uma nova perspectiva.

Ainda há espaço em 2025

O retorno do Moptop, uma das bandas mais emblemáticas do indie rock brasileiro dos anos 2000, reacende uma discussão inevitável: ainda há espaço para esse som em um cenário dominado por pop, trap e funk? O mercado musical mudou radicalmente desde a época em que o quarteto carioca abria shows para Oasis e Franz Ferdinand, mas a resposta pode não ser tão pessimista quanto parece.

Se, por um lado, o indie rock já não comanda as paradas como antes, por outro, o público que cresceu ouvindo o Moptop ainda está aí – e muitos deles seguem fiéis ao gênero. Além disso, os festivais, hoje mais diversificados, podem ser uma porta de entrada. A banda, que sempre teve um pé no internacional (com letras em inglês e influências de The Strokes e Interpol), também pode explorar circuitos fora do Brasil, especialmente com dois integrantes vivendo no exterior. O novo álbum, gravado de forma independente e sem as amarras de uma grande gravadora, prova que a cena indie ainda respira – mesmo que em nichos.

A verdade é que o Moptop não precisa mais do sucesso massivo dos anos 2000 para se manter relevante. O streaming e as plataformas digitais permitem que bandas de nicho encontrem seu público sem depender do mainstream. Se antes o grupo dependia de uma multinacional para circular, hoje eles podem reconquistar fãs antigos e cativar novos ouvintes com autonomia. O show em São Paulo, marcado para julho, será um teste importante: se a casa lotar, será a prova de que o indie rock, mesmo sem ser o gênero da vez, ainda tem quem queira ouvi-lo – e tocá-lo.

E, pelo jeito, o rock ainda não acabou.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.