Após o reconhecimento mundial e o destaque no Globo de Ouro, os brasileiros já esperavam ao menos uma indicação de Ainda Estou Aqui ao Oscar 2025. Esta obra, que combina elementos profundos de drama e reflexão social, conquistou tanto a crítica especializada quanto o público, garantindo seu espaço na corrida pelo prêmio mais do cinema.
A atuação de Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva demonstra com clareza a força de uma mulher diante das opressões e lutas que ocorreram no Brasil durante a Ditadura Militar a partir de 1964. Esse período político marcado por incertezas e intimidações, é bem representado pelo novo indicado ao Oscar.
Para além dessa estrutura marcante e particular da história nacional, o longa também se destaca a ponto de ser lembrado entre os favoritos da temporada. Com uma história sobre recuperação, não apenas de uma perda, ele chama a atenção do telespectador de uma forma surpreendente. O roteiro cuidadosamente elaborado e a excelente atuação dos personagens tornam o filme uma experiência intensa, repleta de nuances emocionais e momentos de grande reflexão sobre a vida, a perda e a importância das conexões humanas.
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Narrativa poderosa e relevante
A principal força de Ainda Estou Aqui reside em sua narrativa, que aborda questões profundas e universais com uma sensibilidade rara. O filme mistura temas de perda, superação e identidade de forma que ressoa com o público em um nível emocional profundo.
Se apegar aos detalhes e verossimilhanças que a história da política brasileira é um dos pontos chaves. É possível ver diversas características da estética do período: a família brasileira vivendo “normalmente” e tentando reprimir opiniões partidárias que vão de contra o espírito militar do tempo. Sociologia se torna um perigo e opiniões contrárias também, de forma sútil o filme entrega essa estética nos detalhes e traz uma notoriedade clássica para as particularidades brasileiras.
Personagens complexos e bem desenvolvidos
Eunice Paiva (Fernanda Torres) e seu marido, o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva (Selton Mello), são os personagens principais. A conexão entre os atores e o desenvolvimento de suas histórias são de grande destaque por seu desenvolvimento que revela uma conexão verdadeira e profunda.
Isso porque a sensação é que o público está acompanhando uma família real, como se fossem vizinhos de todos os brasileiros nos anos 70. Essa dimensão se deve ao entrosamento com os personagens secundários como as filhas mais velhas Vera (Valentina Herszage), Eliana (Luiza Kosovski) e as crianças Marcelo (Guilherme Silveira), Ana Lúcia (Bárbara Luz) e Beatriz (Cora Mora).
Para trazer essa abertura, foi necessário um roteiro coerente. Ele traz uma análise crítica sobre a sociedade contemporânea, abordando temas como desigualdade, preconceito e a busca por pertencimento. Em vez de apresentar uma solução simples para os problemas, o filme propõe questionamentos e provoca o espectador a refletir sobre o mundo ao seu redor. Principalmente por deixar vácuos emocionais ao mostrar a morte de Rubens e seu paradeiro sem explicações. Esse tipo de abordagem, que consegue combinar drama pessoal com questões sociais mais amplas, é uma das razões pela qual o filme foi bem recebido pela crítica e conquistou a indicação.
Direção sensível e assertiva
A direção de Walter Salles em Ainda Estou Aqui é outro fator fundamental para sua indicação ao Oscar. A forma como o diretor conseguiu equilibrar a narrativa com a complexidade emocional dos personagens, sem cair em exageros ou melodramas, foi notável.
A sensibilidade com que o filme foi conduzido permitiu que as cenas mais comoventes fossem apresentadas de forma natural e tocante. Além disso, a escolha das locações e a forma como o espaço foi utilizado para refletir o estado emocional dos personagens também foi um aspecto essencial para a imersão do público na história.
Os detalhes das expressões brasileiras também são de grande notoriedade. Como o toque cultural e influências exteriores e ao mesmo tempo as músicas brasileiras presentes na trama, como a clássica cena da canção de Erasmo Carlos: “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”.
A crítica social envolvente e impactante
Os cinco dias em que Eunice ficou presa mostram a relevância de um dos maiores ápices do filme. As sonoras destacavam as torturas do local em que os presos eram questionados por estarem de contra o governo. Ela é questionada sobre o envolvimento de seu marido com “facções terroristas” pró-redemocratização, o que ela nega constantemente, afirmando que Rubens, após seu autoexílio devido à cassação de seu mandato pelo Ato Institucional Nº 1, não se envolveu mais em política.
A pressão revela um crítica envolvente e impactante por se tratar de um passado tão cruel que o brasileiro antenado na história reconhece e se envergonha. A lição de não aceitar mais essa falta de liberdade é um dos contextos mais fortes e eternizados por uma narrativa triste e que gera no público uma forte sede de justiça.

A indicação de Ainda Estou Aqui ao Oscar 2025 reflete a força de sua narrativa, a complexidade de seus personagens, a profundidade de seu roteiro e a sensibilidade de sua direção. Com uma crítica social afiada e uma execução técnica impecável, o filme se tornou uma das produções mais aclamadas da temporada. Seu impacto não se limita à sua qualidade cinematográfica, mas também à sua capacidade de gerar discussões e reflexões sobre temas essenciais, o que o coloca como um dos favoritos para levar o prêmio de Melhor Filme.
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