Review | Steel Seed nos mostra que até futuros distópicos precisam de polimento

Steel Seed é um jogo desenvolvido pela Storm in a Teacup! responsável por “Close to the Sun” (que eu ouvi boas coisas a respeito) e distribuída pela SDigital. Com uma temática futurista e distópica com foco em plataforma e ação, Steel Seed é um jogo um tanto ambicioso em escopo, e apesar de não ser muito familiar com os jogos da ST, consigo ver que eles tentaram algo bem interessante e diferente com Steel Seed, mas não tenho certeza se esse foi um bom caminho e se Steel Seed é o melhor “próximo passo” do estúdio.

Anteriormente, tivemos o privilégio de jogar a demo disponibilizada pela SDigital a um tempo atrás e você pode conferir as impressões clicando aqui.

Enredo distopicamente acelerado

Aqui controlamos Zoe – uma ciborgue que no inicio do jogo, se encontra presa por quem aparentemente é seu pai, realizando uma operação que aparenta ser arriscada e desesperada na nossa protagonista que lembra bastante a história de origem do nosso querido Ciborgue da DC Comics. Enfim, a nossa protagonista entra em um coma de milênios, e acorda transformada e sem muita lembrança de seu passado.

No seu despertar, Zoe é agraciada pelo pequeno Koby, um robozinho voador em que Zoe inicialmente confronta com suspeitas e medos, mas em questão de segundos ela muda de ideia e passa a acompanhar o pequeno em um lugar totalmente dominado por máquinas e desconhecido para ela.

O objetivo de Koby é guiar Zoe até a inteligência artificial chamada S4VI, que está em uma espécie de livraria colossal e em uma sessão clássica de histórias sci-fis, somos expostos a uma explicação do que aconteceu exatamente nesse mundo – o pai dela sabendo que a humanidade ia para um lugar melhor por conta do estado atual do mundo, decidiu armazenar a humanidade digitalmente enquanto o mundo se restaura e ele se dividiu em 4 partes digitais, e se espalhou pelo mundo.

Então temos a missão de restaurar essas 4 partes e então restaurar o mundo, mas claro que isso não é uma tarefa fácil, pois os robôs hostis tomam controle delas, precisamos recuperar eles enquanto confrontamos Hogo – a maior ameaça entre eles, e isso dá o contexto geral do formato do jogo.

A narrativa aqui é apressada demais, Zoe rapidamente aceita a realidade em que ela vive, mesmo depois de ter passado anos em coma e o mundo ao seu redor ter se tornado totalmente diferente, as interações com o Koby no jogo em geral são bem divertidinhas, mas nenhuma delas são convincentes o suficiente para te fazer se apegar aos dois personagens, tudo acontece de forma muito acelerada, e você não tem muito tempo para processar o sentimento dos personagens, então nada é convincente o suficiente, mas o jogo tem sim algumas reviravoltas interessantes, um tanto na cara demais, porém interessantes.

Escala contemplativa

O mundo de Steel Seed tem uma ótima equipe criativa e artística por trás dele, os cenários do jogo variam de máquinas colossais e tecnológicas, com algumas quebras de vibe ocasionais, mas nada que fuja muito do setting meio cyberpunk.

Infelizmente uma parte desse aspecto artístico se perde por conta de alguns detalhes técnicos do jogo, as vezes eles beiram de cenários originais a cenários totalmente feitos em base de assets genéricos da Unreal Engine, o que decepciona um pouco no contraste das coisas.

O design dos personagens também são bem mais ou menos, variam entre interessantes a genéricos, coisas que eu pessoalmente estou um pouco cansado de ver, alguns inimigos tem boas ideias visuais, mas poucos se destacam, a protagonista tem boas ideias de design como sua trança com a ponta neon, mas vários dos aspectos dela não traz muita inspiração, contudo, no jogo você pode desbloquear diversas roupas que dão mais uma variada visual nela, mas nenhum tem um grande destaque em geral.

Gameplay divisivo entre interessante e decepcionante:

O jogo tem várias bases de gameplay interessantes, a exploração dele conta com bastante plataforming e wall running, e o seu combate mistura um pouco de ação típica de Hack n slashs com um pouco de Stealth, assim como vimos em (exemplos mais modernos) jogos como Sekiro e Stellar Blade, o jogo inclusive lembra bastante Stellar Blade na parte estrutural da coisa, só que infelizmente falta o mesmo nível de polimento e desempenho do mesmo.

Mas devo dizer que a melhor coisa dele são suas sessões de plataforma, onde as escaladas nos cenários gigantescos traziam uma boa sensação de grandeza, e mostrava criatividade e desafio nas formas que realizamos os pulos e as escaladas.

Já no combate de Steel Seed, como eu disse acima, temos o combate corpo a corpo em que ele possuí um método de progressão um tanto curioso, em que é necessário realizar desafios para desbloquear a nova habilidade, e aí então, podemos comprar ela com pontos de experiencia que vamos acumulando dos inimigos do jogo.

É um sistema um tanto curioso que instiga o jogador a aprender mais sobre as mecânicas antes de poder seguir com o restante, e eu devo dizer que eu gostei da ideia, mas a execução em si não é muito empolgante e imagino que muitos jogadores não vão ser fãs de ter que fazer desafios para seguir com upgrades que melhoram a experiencia de combate e furtividade, então não creio que tenha sido a melhor saída nesse quesito.

O combate erra um pouco em sua fluidez nas animações e em sua física, ele beira entre o “leve” e “pesado” em física, as vezes você consegue sentir o impacto e o peso dos golpes no combate, mas as animações são um tanto “bagunçadas” no sentido de que não teve muito polimento na área, isso atrapalha o momentum e faz os golpes percam o impacto.

Bugs no meio do combate também ocorreram, em uma certa ocasião um dos inimigos me agarrou e me teleportou para outro canto do mapa, então apesar de não ter me frustrado imensamente com isso, alguns bugs podem ocorrer e atrapalhar ainda mais a experiencia.

Uma observação pessoal que eu gostei bastante do jogo é que a arma principal de (protagonista) se parece com o sabre do Travis Touchdown do jogo No More Heroes, quando ela se movimenta o rastro da espada continua de forma meia “digital” e eu adoro esse efeito.

O jogo é pesado no número de partes de stealth, pois os inimigos podem te deitar facilmente se você encontrar mais de um nos cenários, então furtividade é uma forma crucial de passar várias sessões do jogo.

Elas não são tão engajadoras o suficiente e as vezes, é mais divertido sair no combate corpo a corpo contra os inimigos de qualquer forma, isso é algo que me lembra bastante o jogo Castlevania: Lords of Shadow 2 onde ele tinha umas pequenas de sessões de furtividades que quebravam bastante o clima do jogo, aqui não é muito diferente.

Fico no muro com a adição de stealth. Steel Seed se vende como um action stealth game e tem partes onde o stealth é bem elaborado e tensos de fato, mas vez ou outra eu me peguei pensando se a adição dessas mecânicas não foram para mascarar o quão mais ou menos é o combate corpo a corpo do jogo.

Design de Som um tanto badernado

A versão que eu estou jogando é do PS5, e eles não corrigiram o layout de botões no minigame de piano

Outra parte um tanto decepcionante de Steel Seed foi sua mixagem de som, temos uma parcela de boas soundtracks, destaque para a música de menu inicial do jogo (e a que toca enquanto estamos no icone do jogo na dashboard do videogame) mas muitas das músicas não tem a força suficiente que elas deveriam ter, as vezes elas até surpreendem, mas a mixagem de som do jogo é tão confusa que elas ficam baixas demais enquanto efeitos ficam altos demais.

Ocasionalmente também o áudio das vozes dos personagens fica para todo lado, uma hora está muito baixo, outra hora está alto demais, e o mesmo vale para os efeitos sonoros onde alguns deles são ótimos, e outros infelizmente são baixos demais. Isso tem impacto também no combate do jogo, onde os golpes além de não passarem uma sensação de peso ideal, também não passam uma boa sensação pelo áudio.

Os dubladores não são ruins, mas eles também não passam muito impacto e emoção nas falas, como eu disse acima, o jogo é repleto de diálogos com piadas entre Zoe e Koby (apesar desse só falar com efeitos sonoros) e alguns deles são bons, e outro um tanto fracos, mas nada de errado com os dubladores em si, só que os personagens não oferecem um bom alcance para demonstrar o talento deles, o design de som também não ajuda muito, algumas vezes as vozes ficam muito baixas, e outras o audio pode até estourar um pouco.

Performance decepcionante

Steel Seed é um jogo graficamente ok, para um padrão de um típico jogo AA, ele está de bom tamanho, mas sua performance deixa a desejar em muitas áreas, o jogo as vezes dá uns engasgos e perde bastante frames dependendo dos elementos que estão no cenário, se você está lutando em um cenário cheio de inimigos com vários detalhes ao redor dele, o jogo dá quedas bruscas.

Não sou o tipo de pessoa que se importa muito com performance dos jogos, dois jogos que eu amo (Nier de PS3/Xbox 360 e Deadly Premonition) são completamente abismais em performance, mas reconheço também que isso pode atrapalhar muito a experiencia de alguns usuários, e aqui, esse tipo de coisa me incomodou porque o jogo em vários aspectos não me deixou engajado com o que acontece nele, ou com o seu mundo em questão, então acaba que a falta de boa performance me incomoda, porque o restante também não agradou muito.

Vale dizer que eu joguei em um Playstation 5 base, e apesar de tudo, o jogo não tem nada incrivel que force o videogame a ir ao máximo dele, como Black Myth: Wukong por exemplo.

Considerações Finais

Steel Seed é um jogo que tem um certo potencial, sua visão geral não é uma das mais criativas que tem, mas ainda assim, dá para perceber que um certo carinho e cuidado foi colocado por parte da equipe artística dele, e dá para perceber que ele teria um certo espaço no meio dos jogos de ação modernos.

Infelizmente pela falta de empenho e uma visão mais clara, e pela falta de um polimento geral do jogo, ele acaba não marcando muito o jogador em quase nenhum aspecto. O jogo possui boas sessões de plataforma, mas não empolga muito no combate, a interação da protagonista com o pequeno Kobi e outros personagens não são tão divertidas e curiosas como as interações de companions que vemos em jogos como Uncharted, ou Enslaved da Ninja Theory como dois exemplos básicos.

Mas Steel Seed também não é um jogo terrivelmente quebrado e que causa grandes frustrações no jogador, não é muito longo e pode ser facilmente terminado em umas 5 horas se o jogador não querer explorar muito do que ele tem a oferecer, e apesar de parecer curto, é um tempo bem aceitável pelo que ele tem a oferecer.

Um agradecimento a ESDigital Games por ter nos disponibilizado o jogo para análise!

Steel Seed saiu em 22 de abril e está disponível para PlayStation 5, Xbox Series e PC.

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Escritor Freelancer, tenho como paixão primária em videogames e principalmente em JRPGs, apesar de amar cultura pop em geral.