Crítica | Uma Ideia de Você: fanfic apaixonante que faz sonhar e refletir

Estrelado por Anne Hathaway (“O Diabo Veste Prada”) e Nicholas Galitzine (“Vermelho, Branco e Sangue Azul”), o filme Uma Ideia de Você é a realização do sonho de toda adolescente que sonhava acordada com sua boyband favorita. Porém, ao mesmo tempo que entrega uma maturidade que poucos romances do mesmo estilo se arriscam, ainda cai em percalços tão clichês quanto a proposta do enredo.

O longa, dirigido por Michael Showalter (“Doentes de Amor“), é uma adaptação do livro que leva o mesmo nome, que surgiu de uma fanfic sobre o cantor e ator britânico Harry Styles enquanto estava na boyband One Direction. O filme conta a história de Solène (Hathaway), uma mãe de 40 anos divorciada que conhece e se envolve com Hayes (Galitzine), um dos maiores astros pop da atualidade. Nesta situação, os dois precisam desvendar como manter o relacionamento diante das desvantagens do excesso de fama.

Hayes Campbell apresentando no Coachella com sua banda August Moon (Foto: Divulgação/Prime Video)

Casal protagonista é o coração de Uma Ideia de Você

Galitzine mostra mais uma vez porque é o novo queridinho de Hollywood ao exibir todo o seu potencial versátil em interpretação, após representar um príncipe gay da família real, em “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, um bobalhão engraçado do time de futebol americano, em “Clube da Luta para Garotas” e um militar, em “Continência ao Amor”. O ator, dessa vez, veste muito bem a personalidade de um cantor que sabe usar o próprio charme ao mesmo tempo que é completamente apaixonado por Solène. Sentimos o peso das costas de uma pessoa que deve equilibrar a vida pessoal e de um grande astro que sofre com hiperexposição. Aliás, alguns fãs de Harry Styles confirmam que há uma grande semelhança de seus trejeitos e expressões na atuação de Galitzine, além de forçar um sotaque britânico.

Anne Hethaway, por sua vez, rouba a cena e carrega em sua encenação todas as emoções que o filme tenta passar: tristeza, ansiedade, desconfiança, preocupação e culpa. Com a solidez e experiência de uma ganhadora de Oscar, a atriz passa para sua personagem a veracidade de uma mulher madura em uma situação no mínimo fora do comum, e mesmo com os percalços do roteiro ainda a sustenta como parte de si.

Ambos os atores principais são perfeitamente talentosos, o que seria de muito mais utilidade se tivessem em mãos um roteiro que valorizasse mais desenvolvimento dos personagens para além do relacionamento romântico. Pouco se sabe sobre a personalidade de Hayes e Solène além do que está no âmbito da profissão e familiar, o que inevitavelmente distancia o espectador de se identificar com eles. Todos os outros personagens envolvidos, além da filha, também parecem estar lá ilustrativamente, sem muita relevância para o desenvolvimento da história. 

Outra questão que cai no mesmo erro clichê de outras comédias românticas, é a grande conveniência de algumas situações apenas para que o roteiro chegue no ponto que deseja, como a facilidade com que Solène simplesmente se infiltra nos bastidores do festival e entre no trailer de uma das atrações sem sequer se esforçar para isso. Algumas situações, apesar simples, subestimam a inteligência do espectador, precisando fazer um esforço para não haver a suspensão da crença e arrancá-lo de dentro daquele universo.

Hayes e Solène em cena (Foto: Divulgação/Prime Video)

Todos esses pontos fracos, no entanto, não são suficientes para fazer com que os momentos felizes sejam completamente perdidos. Estes são muitos, e o romance, que é onde o filme se propõe a brilhar, é de fato muito bem construído. O filme se dedica em mostrar os primeiros momentos de interação, de conhecimento e identificação entre os protagonistas, permitindo que o público também se sinta parte e entenda o sentimento que é construído ali. A partir disso, o que desengata são cenas de muita química e intimidade, passando por momentos quentes até encontros românticos que são favorecidos pela montagem do filme, que com closes silenciosos nas trocas de toques e olhares entre personagens, garante a tensão necessária para passar ao espectador a sensação desejada.

A fotografia é carregada por uma paleta de cores quentes, independente da situação, que funciona para ambientar o público em Los Angeles no verão, local e momento em que se passa o filme. A escolha garante que as cenas sejam bem coloridas, o que contribui para um filme agitado e com tantos acontecimentos. Os figurinos, por sua vez, seguem a mesma lógica e também conversam com o público para apresentar os personagens antes mesmo dos diálogos. Com estilos modernos e joviais, Solène é introduzida ao espectador através de suas roupas como uma mulher diferente do estereótipo de mãe que estão acostumados, o que é comprovado no decorrer do longa. Em diversos momentos do filme, seus vestidos e combinações chamam atenção positivamente, até mesmo quando não é a intenção, como em cenas mais dramáticas.

O grupo musical ao qual somos apresentados, o August Moon, convence desde os primeiros segundos de sua aparição no filme, adotando todos os estereótipos de boybands que são necessários para conquistar o público, desde suas roupas, apresentações, presenças de palco e principalmente as músicas. A trilha sonora, sabidamente, se utiliza das músicas construídas para a banda como seu ponto mais forte, pois são canções pop, cativantes e bem compostas por Siddhartha Khosla (de “This is Us“). Conhecendo o potencial, o longa também dedica alguns bons minutos de tela para apresentar algumas dessas músicas com deleite, incluindo encenações de dança, vídeo clipes e performances dignas de uma verdadeira boyband. As músicas, como “Dance Before We Walk” e “Taste” estão disponíveis nas plataformas digitais do Prime Vídeo e já conquistam o público que chegou através de “Uma Ideia de Você”.

Atenção: Spoilers

O filme sugere, desde sua sinopse, que há alguma problemática sobre a diferença de idade que poderá intervir no relacionamento dos personagens, porém essa questão pouco ou quase nada interfere no desenvolvimento do casal. Assim como ele também passeia superficialmente sobre as problemáticas do machismo e etarismo, e pouco se aprofunda antes do terceiro ato. No entanto, o que se observa é que as maiores dificuldades de Hayes e Solène são decorrentes da falta de privacidade, além de outros problemas com confiança sobre segredos guardados. 

Solène mantém segredo para a filha sobre sua a relação com o cantor durante todo o filme, o que constrói uma tensão sobre a situação e prepara o espectador para um grande clímax no momento em que a descoberta acontecer. Quando chega esse momento, facilmente a discussão é resolvida e pouco se sustenta a razão das separações anteriores que levaram até aquele momento. No fim, nenhum problema apresentado até o terceiro ato é justificável, além do interesse dos próprios roteiristas de construir uma tensão. O filme é então montado de forma confusa, parecendo encerrar que deveria encerrar sua história antes do que realmente se encerra. Porém, talvez para prolongar o drama ou achar um clímax convincente o suficiente, o longa se estica para um terceiro ato desnecessário.

Solène com sua filha (Foto: Divulgação/Prime Video)

Ao chegar no segundo clímax do longa, finalmente o filme parece entender o diferencial de ter uma protagonista de 40 anos e demonstra a importância da maturidade diante de tomadas de decisões difíceis, que envolvem sacrificar a própria felicidade pelo o que é melhor naquele momento. A invasão de privacidade, a pressão da mídia e a preocupação com a felicidade da própria filha colocam Solène numa situação difícil e dolorosa. Deixar Hayes pode ser uma escolha discutível e aberta a debates, mas foi necessário maturidade de Solène para listar suas prioridades. E, mesmo prolongando a história mais do que o necessário, o filme não deixa para o público um sabor amargo ao final, e sim passa a mensagem de que há esperança quando se tem amor.

Assim, o encerramento do filme abre a reflexão sobre o tempo certo para cada coisa, sobre respeitar seus limites e também deixa uma mensagem esperançosa sobre o destino de duas pessoas ficarem juntas. Apesar dos percalços do roteiro em buscar o caminho mais fácil ao construir a trama, “Uma Ideia de Você” ainda diverte e deixa uma sensação de satisfação ao terminar de assistir. Além de arrancar sorrisos e suspiros pelas interações românticas e carregadas de química do casal protagonista, o filme cumpre a proposta de um romance improvável que faz dar certo através das dificuldades e estão dispostos a superar qualquer problema em busca de seu final feliz.

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