No último sábado (6), foi confirmada a morte de Ziraldo. Um dos maiores cartunista do Brasil nos deixou com 91 anos enquanto dormia em seu apartamento na Zona Sul do Rio. Além de “O menino maluquinho” e “A Turma do Pererê”, Ziraldo teve uma carreira recheada de criações e histórias, deixando assim, um legado enorme aos seus familiares e fãs.

Em 24 de outubro de 1932, vinha ao mundo na cidade de Caratinga, no interior de Minas Gerais, Ziraldo Alves Pinto, que teve o seu nome criado a partir dos nomes Zizinha e Geraldo, seu pais, com quem, além de seus irmãos, o também desenhista, jornalista, cartunista e escritor Zélio Alves Pinto e Ziralzi Alves Pinto, passou toda a sua infância.

O cartunista desde pequeno sempre apresentou uma forte afinidade com as artes tendo até um de seus desenhos publicados no jornal Folha de Minas, quando tinha apenas 6 anos.

Junto de sua avó, por volta de seus 17 anos de idade, o futuro cartunista foi viver no Rio de Janeiro, porém voltou à sua terra natal onde concluiu seu Ensino Médio. Mais tarde, em 1954, Ziraldo deu inicio a sua carreira ao entrar na “Folha da manhã” (atual Folha de São Paulo), escrevendo colunas voltadas para o humor, e três anos mais tarde, aos 25 anos de idade, ele se estabeleceu na revista “O Cruzeiro”, o que deu o inicio a ascensão de sua carreira, visto que essa era uma revista de bastante popularidade na época.

No mesmo ano, Ziraldo obteve também o seu diploma em Direito, pela Federal de Minas Gerais, mas seu coração sempre pertenceu ao mundo do jornalismo e das artes. Além de caricaturista e jornalista, ele era, cartunista, pintor, chargista, humorista, colunista, escritor, cronista, dramaturgo e desenhista.

Em 1960, Ziraldo foi agraciado com o “Nobel Internacional de Humor”, na 32ª Edição do “Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas”. O caricaturista ganhou também o prêmio “Merghantealler“, considerada a maior premiação da imprensa livre da América Latina.

Apesar de ter vivido uma carreira de sucesso, essa não foi nada fácil. Em seu primeiro momento de ascensão como escritor, Ziraldo teve a sua carreira interrompida após o “Golpe de 64” e início da “Ditadura Militar brasileira”. O seu trabalho como jornalista, diretor e fundador do tabloide, “O Pasquim” fez com que, apenas um dia após a promulgação do temido AI-5 (Ato Institucional Número 5), ele fosse preso, em 1968.

Apesar de tudo o que passou, nem mesmo as celas das prisões o seguraram. Ziraldo lançou inúmeros livros e quadrinhos de sucesso, e alguns até mesmo foram adaptados para a televisão. Ele lançou revistas de humor, uma das mais recentes foi uma sátira da “Revista Caras”, chamada “Revista Bundas”, criada para brincar com toda a ostentação da elite brasileira. Ele fez trabalhos internacionais para revistas como “Private Eye”, da Ingletrra, “Plexus”, da França e “Mad”, dos Estados Unidos.

A seguir trago algumas de suas maiores obras:

Obras

A Turma do Pererê

Com seu sucesso garantido, em 1960, o escritor deu um passo adiante e lançou os primeiros quadrinhos coloridos e escritos por apenas um autor, no Brasil. Tal publicação recebeu o nome de “A Turma do Pererê”.

Capa 1ª Edição revista “A Turma do Pererê”.

Inicialmente lançada no formato de cartuns na revista “O Cruzeiro”, em 1959, as histórias do personagem Pererê caíram no gosto do publico, fazendo com que no ano seguinte fosse lançada a sua primeira edição em revistinhas com o nome de Pererê, sendo publicada mensalmente de outubro de 1960 à abril de 1964. Infelizmente seu sucesso foi interrompido durante o regime militar que baniu a produção e venda destas. Contudo, as 43 edições publicadas durante sua primeira serie renderam uma criação de aproximadamente 120 mil exemplares.

Em abril de 1975 a Editora Abril trouxe de volta a revistinha com o nome de “A Turma do Pererê”, porém, um ano depois, após 10 edições, esta foi cancelada após a editora alegar que as vendas não atingiram as metas esperadas.

Flicts

Em 1969, Ziraldo deu vida a Flicts, que foi o seu primeiro livro publicado.

Capa do livro “Flicts”, Editora Expressão e Cultura.

Ziraldo teve apenas três dias para criar a história de Flicts uma cor “diferente” que não conseguia se encaixar no arco-íris, em bandeiras, ou em qualquer lugar na terra e por isso não era reconhecida. Todavia, com o passar das páginas, esta cor descobre que é a cor da Lua.

Uma curiosidade sobre este livro, é que um de seus exemplares foi dado como presente a Neil Armstrong (primeiro homem a pisar na lua) em um encontro que o astronauta teve no Brasil. E ao se encontrar com Ziraldo, Armstrong garantiu que o livro do brasileiro estava correto e escreveu “The moon is Flicts” (Tradução: A Lua é Flicts), esta frase foi incluída nas republicações do livro após o evento.

O Menino Maluquinho

“Era uma vez um menino que tinha o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés.”

Esta é a frase que abre o livro de maior sucesso da carreira de Ziraldo. O clássico foi lançado em 1980, como um livro e mais tarde em 1989, pelas Editoras Abril e Globo, as histórias em quadrinhos que davam continuidade ao livro foram lançadas, e produzidas até 2007.

Capa “O Menino Maluquinho”.

O livro original chegou a vender cerca de 2 milhões e meio de cópias, comercializadas de 1980-2005, apresentando as histórias de uma criança alegre, travessa e “maluquinha” sempre com seus trajes largos e uma panela na cabeça.

Além de livro e quadrinho, a trama foi adaptada ao longo dos anos para peças teatrais, filmes, séries de TV e até mesmo óperas.

Uma Professora Muito Maluquinha

A obra que foi lançada em 1995 como um livro, pela Editora Cia. Melhoramentos de São Paulo, já ganhou seu espaço nas telonas, no ano de 2010, estrelando grandes artistas como Paolla Oliveira (Professora Catarina) , Chico Anysio (Monsenhor Aristides) e o próprio Ziraldo (Seu Florêncio).

Capa livro “Uma Professora Muito Maluquinha”.

A história fala sobre a vida da Professora Catarina, que tinha métodos considerados diferentes e anormais para os adultos mas que conseguiu conquistar o coração de todos os seus alunos. Ela porém, por ser diferente, é conhecida por ser “maluca”.

A imaginação e contribuição de Ziraldo ao Brasil, e para o mundo, foram infinitas durante seus 91 anos de vida. O seu legado e a marca que ele deixou na vida de muitos adultos, jovens e crianças é algo emocionante e é com muito pesar que nos despedimos do Maior Cartunista que o Brasil já teve. Esperamos que a sua marca seja levada a diante, que jamais esquecida e que continue sendo inspiração para muitos, trazendo sempre alegria, luz e humor até nos dias mais escuros.

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