Crítica | Doctor Who 1×07 – A Lenda de Ruby Sunday é só uma preparação de terreno
(Foto: Divulgação/BBC)

Crítica | Doctor Who 1×07 – A Lenda de Ruby Sunday é uma preparação de terreno morna

A primeira metade do final da temporada parece mais funcional do que dramática ou empolgante.

Um dos grandes prazeres da primeira era de Russell T. Davies (da série “Years and Years”) em Doctor Who era ver como um mistério ao longo da série, presente em cada episódio, se desvendaria no final. Os arcos do seu sucessor, Steven Moffat (da série “Sherlock”), se mostraram complicados, enquanto os enredos do recente showrunner Chris Chibnall (da série “Broadchurch”) foram, sem exceção, insatisfatórios. O episódio desta semana, “A Lenda de Ruby Sunday”, o penúltimo desta temporada e a primeira parte de um final em duas partes, não consegue recapturar a magia dos reviravoltas anteriores de Davies.

O episódio começa com o Doutor (Ncuti Gatwa) pousando dramaticamente a TARDIS no quartel general da UNIT, a força-tarefa de combate a alienígenas da Terra. Ele aparentemente fez uma pausa em suas viagens para realizar algumas tarefas administrativas necessárias, incluindo pedir a ajuda da UNIT – que agora inclui Rose (Yasmin Finney) e um novo personagem gênio mirim, Morris (Lenny Rush) – para responder a duas das maiores questões da série.

Crítica | Doctor Who 1×07 – A Lenda de Ruby Sunday é só uma preparação de terreno
(Foto: Divulgação/BBC)

A primeira é sobre a identidade de uma mulher misteriosa (Susan Twist) que apareceu curiosamente em todos os episódios da série. Você a viu? Ela foi uma servente de chá em “O Som do Diabo“, uma caroneira em “73 Jardas“, uma ambulância robô em “Boom” – e a lista continua. Em A Lenda de Ruby Sunday, ela é Susan Triad, uma bilionária da tecnologia prestes a colocar sua enigmática tecnologia Triad em todos os lares do planeta. Apesar do trabalho disfarçado de Mel (Bonnie Langford) – retornando à sua icônica personagem de companheira pela enésima vez – não está completamente claro o que é a Triad ou o que ela fará.

Davies, que obviamente antecipou teorias fervorosas sobre a recorrente aparição da mulher e joga habilmente com o elemento do mistério. Acha que é esperto por descobrir que “S Triad” é um anagrama de TARDIS? Bem, todos na UNIT já sabem disso.

Enquanto isso, o Doctor está distraído com o outro grande mistério da série: quem é a mãe biológica de Ruby Sunday (Millie Gibson)? O Doutor afirma que não pode viajar no tempo para descobrir – era um ponto fixo no tempo que não pode ser alterado, aquela velha história –, então ele faz uso da tecnologia da “Janela do Tempo” da UNIT. Isso permite que ele pegue imagens antigas de uma câmera de vigilância de Ruby sendo abandonada por uma figura encapuzada – como visto no especial de Natal do ano passado “A Igreja na Estrada Ruby” – e traga isso à vida como um momento tangível no tempo.

O que ele descobre em vez disso é a presença de algo antigo e desconhecido: uma névoa em vermelho e preto que aparentemente tomou conta da TARDIS. Então é por isso que a nave passou boa parte desta temporada gemendo. Mas o que é essa força misteriosa? A resposta para isso é revelada pela própria Susan Triad, que acaba sendo uma faceta do relativamente obscuro vilão clássico de Doctor Who: Sutekh – que aparece aqui como uma criatura canina gigante, uma referência ao deus egípcio Seth.

“Quem?!” você pode perguntar. Admitidamente, uma reviravolta tão grandiosa é menos dramática quando o vilão em torno do qual ela gira é tão esotérico.

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Sutekh retorna na série (Foto: Divulgação/BBC)

Sutekh é o Deus da morte – “o Deus de todos os Deuses” – cuja única aparição na tela foi na aclamada história “Pyramids of Mars” (Pirâmides de Marte, em tradução livre )de 1975, quarta encarnação do Doutor vivido por Tom Baker. Embora o episódio seja um dos mais queridos dessa fase – inclusive de quem vos escreve –, essa é uma referência notavelmente profunda para uma série que parece tão focada no Zeitgeist – já falei muito sobre isso revisando outros episódios dessa temporada –, mas suponho que se encaixa com o panteão fantástico da era Gatwa. Tivemos o Toymaker (Neil Patrick Harris), Deus do jogo, e Maestro (Jinx Monsoon), Deus da música – ambos indicando à ideia de “aquele que espera”. Quem mais eles temeriam senão a própria morte?

Crítica | Doctor Who 1×07 – A Lenda de Ruby Sunday é só uma preparação de terreno
(Foto: Divulgação/BBC Classic)

Teremos que esperar até o último episódio da próxima semana para ver se Sutekh vale a expectativa. Pois, A Lenda de Ruby Sunday foi mais uma promessa do que uma história – um vislumbre de esperançosamente coisas melhores por vir. Este é frequentemente o problema com episódios de duas partes: a primeira metade pode parecer mais funcional do que necessariamente dramática, uma pista de decolagem necessária para que o restante da história possa alçar voo. Esperamos que o pouso seja bem-sucedido semana que vem.

Leia as críticas dos episódios anteriores:

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.