Nesta quarta-feira, dia 19 de junho, celebramos o Dia do Cinema Nacional, uma data para valorizar a trajetória do cinema brasileiro. O cinema nacional evoluiu desde os primórdios até a produção contemporânea, refletindo as mudanças sociais, culturais e políticas do país.
Para os jovens ou iniciantes no cinema, essa é uma oportunidade de se conectar com as raízes culturais e entender a complexidade e diversidade do Brasil. Vamos embarcar nesta viagem pela história do cinema nacional e descobrir curiosidades, conhecer precursores e atores de destaque, e explorar obras menos conhecidas, mas essenciais.
História do Cinema Brasileiro:
Os primórdios
A história do cinema no Brasil começa no final do século XIX, quando, em 1896, um ano após a primeira exibição pública de cinema pelos irmãos Lumière na França, aconteceu a primeira exibição no Brasil, no Rio de Janeiro. Foi uma sessão de filmes curtos apresentados por Affonso Segreto, responsável pelas primeiras imagens em movimento filmadas no país.
Nos primeiros anos, a produção era modesta e focada em documentários curtos e filmagens de eventos cotidianos. Em 1908, o filme “Os Estranguladores”, de Francisco Marzullo, considerado o primeiro longa-metragem de ficção do país, marca o início de uma nova era.
Era de Ouro: anos 1940 e 1950
Os anos 40’s e 50’s são frequentemente chamados de Era de Ouro do cinema brasileiro. Durante esse período, surgiram grandes estúdios como a Cinelândia e a Atlântida Cinematográfica, que produziram comédias populares conhecidas como chanchadas. A chanchada conquistou o público brasileiro, sendo marcada pelo humor simples e números musicais.
Um ícone dessa Era é o ator e comediante Grande Otelo, que estrelou em filmes como “Moleque Tião” e “Matar ou Correr”. Outro destaque foi Carmen Miranda, que começou no Brasil e se tornou um símbolo da cultura brasileira no exterior, mesmo sendo portuguesa.
Cinema novo: anos 1960
Nos anos 60’s, o Brasil vivenciou o Cinema Novo, um movimento estético e ideológico que buscava retratar a realidade social e política do país. Inspirado pelo neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa, trouxe um olhar crítico e inovador sobre a pobreza, a desigualdade e a opressão.
Diretores como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos são figuras centrais desse movimento, com filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe” e “Vidas Secas”. A frase icônica de Glauber Rocha, “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, encapsula o espírito criativo e combativo da época.
Em contraponto ao Cinema Novo, no fim da década e invadindo os anos 1970, nasceu o cinema marginal, um movimento cinematográfico caracterizado por filmes autorais e experimentais, que chamam a atenção para problemas e incoerências do Brasil durante os anos mais violentos da ditadura militar e ficam à margem dos circuitos comerciais de exibição.
Os gêneros são variados, como policial, drama, erótico e terror. Os filmes, em geral de baixo orçamento, são produzidos principalmente na Boca do Lixo, centro de São Paulo, e no Rio de Janeiro, pela produtora Belair. “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, “A Dama do Lotação”, de Neville d’Almeida e “Matou a Família e Foi ao Cinema”, de Júlio Bressane são alguns dos longas expoentes do movimento.
Anos 1970 e 1980: a retomada
Os anos 70’s e 80’s foram marcados por dificuldades econômicas e censura política durante a ditadura militar. Surgiram obras significativas que exploraram a cultura popular e a identidade nacional. Por exemplo, os filmes de Hector Babenco, incluindo “Pixote: A Lei do Mais Fraco”, e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” de Bruno Barreto, baseado no romance de Jorge Amado.
Na década de 80’s, cineastas como Walter Salles e Fernando Meirelles surgiram e ganharam destaque internacional nas décadas seguintes.
A Era Contemporânea: anos 1990 até hoje
Nos anos 90, o cinema brasileiro passou por uma nova fase de revitalização, conhecida como a retomada, com a criação da Lei do Audiovisual. Filmes como “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, indicado ao Oscar, e “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, marcaram essa era com seu retrato visceral da vida nas favelas do Rio de Janeiro.
A produção contemporânea é diversa e vibrante. Cineastas como Anna Muylaert (“Que Horas Ela Volta?”), Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”) e Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”) ganhando reconhecimento internacional e trazendo novas perspectivas para o cinema nacional.
Confira algumas curiosidades sobre o Cinema Brasileiro:
1. Primeiro Cinema: O primeiro cinema permanente do Brasil, o Cine Parisien, foi inaugurado em 1909 no Rio de Janeiro.
2. Carmen Miranda: A pequena notável, chegou a ser a artista mais bem paga de Hollywood nos anos 1940.
3. Premiação Internacional: Em 1998, Fernanda Montenegro foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua atuação em “Central do Brasil”, tornando-se a primeira atriz latino-americana indicada à premiação internacional.
4. Recorde de Bilheteria: “Tropa de Elite 2” (2010), dirigido por José Padilha, é um dos filmes brasileiros de maior bilheteria, com mais de 11 milhões de espectadores, estabelecendo um recorde de bilheteria.
5. Filmes em Línguas Indígenas: O Brasil também produz filmes em Línguas Indígenas. “A Última Floresta” (2021), dirigido por Luiz Bolognesi, é um exemplo recente.
Precursores e atores de destaque:
Precursores
– Humberto Mauro, um dos pioneiros do cinema nacional, dirigiu filmes como “Ganga Bruta” (1933), que influenciaram gerações de cineastas.
– Mário Peixoto: Seu filme “Limite” (1931) é considerado uma obra-prima do cinema mundial, elogiado por críticos e cineastas globalmente.
Atores de destaque
- Grande Otelo: um dos maiores comediantes do Brasil, com uma longa e prolífica carreira no cinema e teatro.
- Sônia Braga é uma atriz brasileira conhecida internacionalmente, estrelou “O Beijo da Mulher Aranha” e “Aquarius”.
- Wagner Moura é um ator versátil, conhecido por “Tropa de Elite” e “Narcos”.
- Fernanda Montenegro é uma das maiores atrizes do Brasil, reconhecida internacionalmente por “Central do Brasil”.
Filmes essenciais do Cinema Nacional não muito conhecidos:
- “São Paulo, Sociedade Anônima” (1965) – Dirigido por Luiz Sérgio Person, um retrato da vida urbana e industrial na São Paulo dos anos 1960.
- “O Pagador de Promessas” (1962) – De Anselmo Duarte, o único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
- “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) – De Rogério Sganzerla, um filme inovador e experimental que marcou o cinema marginal.
- “Cabra Marcado para Morrer” (1984) – De Eduardo Coutinho, um documentário que explora a vida e a morte de um líder camponês.
- “A Hora da Estrela” (1985) – Adaptado do romance de Clarice Lispector, dirigido por Suzana Amaral, conta a história da nordestina Macabéa em São Paulo.
- “Lavoura Arcaica” (2001) – Dirigido por Luiz Fernando Carvalho, uma adaptação do romance de Raduan Nassar, uma obra poética e intensa.
- “Bicho de Sete Cabeças” (2001) – De Laís Bodanzky, estrelado por Rodrigo Santoro, uma crítica ao sistema manicomial brasileiro.
- “O Som ao Redor” (2012) – De Kleber Mendonça Filho, um olhar sobre as tensões sociais em um bairro de classe média em Recife.
- “Mutum” (2007) – Dirigido por Sandra Kogut, uma adaptação sensível do romance de João Guimarães Rosa, “Campo Geral”.
O cinema brasileiro atual
Nos últimos anos, o cinema brasileiro se destacou pela diversidade temática e qualidade das produções. “Que Horas Ela Volta?” (2015), dirigido por Anna Muylaert, aborda questões sociais e de classe, recebendo aclamação e prêmios em festivais como Sundance e Berlim. “Bacurau” (2019), dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, combina faroeste, ficção científica e crítica social, conquistando o Prêmio do Júri em Cannes. Essas obras mostram a capacidade do cinema nacional de dialogar com públicos globais e manter um forte vínculo com a realidade brasileira.
Além dos filmes de ficção, os documentários brasileiros também têm ganhado destaque.
“Democracia em Vertigem” (2019), dirigido por Petra Costa, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário. Ele oferece uma visão íntima e crítica dos eventos políticos recentes no Brasil. A tradição documental no Brasil é longa e respeitada. Cineastas como Eduardo Coutinho deixaram um legado duradouro. Documentários contemporâneos continuam essa tradição, explorando temas variados e urgentes, como questões ambientais, direitos humanos e movimentos sociais.
Outro aspecto importante do cinema brasileiro contemporâneo é a representatividade. Vemos produções que dão voz a grupos historicamente marginalizados, como indígenas, negros e a comunidade LGBTQIAPN+. Filmes como “As Boas Maneiras” (2017) misturam terror e fantasia para tratar de questões sociais e raciais. “A Vida Invisível” (2019), por sua vez, narra a história de duas irmãs separadas pela opressão patriarcal. Essa diversidade de vozes e histórias é essencial para refletir a complexidade do Brasil e enriquecer o panorama cultural.
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