Se tem uma coisa que a história de Charles Manson prova é que, quando uma pessoa já é completamente perturbada, qualquer coisa pode virar desculpa para justificar suas loucuras – até mesmo uma música dos Beatles. A obsessão de Manson pela música foi muito além de uma simples admiração. Ele queria ser um astro do rock, sonhava em fazer sucesso e se cercava de músicos famosos. Mas quando sua carreira não decolou, sua frustração virou ódio. Ele passou a enxergar mensagens ocultas nas letras de músicas e usou isso como pretexto para dar início ao que chamou de “Helter Skelter”, uma guerra racial que ele achava que mudaria o mundo – ou pelo menos o colocaria no poder.
A Netflix acaba de lançar Caos: Os Crimes de Charles Manson, um documentário que revisita essa história e traz novas teorias sobre sua relação com a música e até sobre possíveis experiências governamentais que podem ter ajudado a moldar sua mente perturbada. Mas como um cara que queria ser músico virou líder de um culto assassino?
De rockstar a psicopata: o sonho frustrado de Manson
Antes de ser conhecido como um dos criminosos mais cruéis dos EUA, Charles Manson tentou ser cantor. Ele escrevia músicas, tocava violão e chegou a gravar algumas faixas. Mas, ao invés de sucesso, só conseguiu um histórico de rejeições.
Um dos momentos mais marcantes da sua vida foi quando conheceu Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys. Wilson ficou intrigado pelo jeito carismático de Manson e até o hospedou em sua casa por um tempo. Durante essa amizade, Manson compôs “Cease to Exist”, que foi regravada pelos Beach Boys como Never Learn Not to Love, mas com algumas alterações e sem dar crédito ao verdadeiro autor. Isso deixou Manson furioso e fez com que sua frustração com a indústria musical aumentasse ainda mais.
Outro grande baque veio quando Terry Melcher, um produtor musical influente e filho da atriz Doris Day, rejeitou um contrato com ele. Manson ficou obcecado por essa rejeição, e quando ordenou os assassinatos que chocaram o mundo, mandou que seus seguidores invadissem a casa onde Melcher morava – mesmo que, naquela época, ele já tivesse se mudado. O alvo acabou sendo a atriz Sharon Tate, que estava grávida de oito meses e foi brutalmente assassinada junto com outras quatro pessoas.
A moral da história? Manson queria fama. Quando percebeu que não ia conseguir isso pela música, resolveu marcar seu nome na história de outra forma – do jeito mais doentio possível.
Os Beatles e o ‘Helter Skelter’ que só existia na cabeça de Manson
Se tem uma banda que marcou a cultura pop, essa banda é os Beatles. Agora, imagine descobrir que um cara como Manson acha que suas músicas são mensagens secretas direcionadas para ele. Pois foi exatamente isso que aconteceu.
Manson acreditava que o “White Album” (1968) dos Beatles era praticamente uma profecia sobre o que ele tinha que fazer. Ele interpretou a música Helter Skelter como um chamado para iniciar uma guerra racial, onde os negros iriam se revoltar contra os brancos. No delírio dele, quando o caos começasse, os negros não iam saber como governar e acabariam chamando Manson e sua seita para assumir o poder. Sim, é tão absurdo quanto parece.
Mas Helter Skelter não foi a única música que Manson distorceu para encaixar em sua teoria maluca:
- Blackbird: Ele achava que falava sobre os negros “se levantando” para a guerra racial.
- Piggies: Na cabeça dele, era um recado sobre acabar com os ricos e poderosos – justificando seus assassinatos.
- Revolution 9: Aquela repetição “Number 9” seria um código para o fim iminente do mundo como conhecemos.
O resultado? Depois dos assassinatos, os seguidores de Manson escreveram Helter Skelter com o sangue das vítimas na parede, transformando uma simples música dos Beatles em um símbolo macabro para sempre.
O que a Netflix revela em Caos: Os Crimes de Charles Manson (2025)
O novo documentário da Netflix, Caos: Os Crimes de Charles Manson, traz novas perspectivas sobre essa história bizarra. Baseado no livro de Tom O’Neill, ele sugere que a mente perturbada de Manson pode ter sido influenciada por experimentos secretos do governo americano, especialmente o projeto MKUltra, que estudava controle mental através do uso de LSD.
Isso significa que Manson era só um boneco manipulado? Não necessariamente. Mas o documentário levanta questionamentos sobre como ele conseguiu manipular tantas pessoas e manter seu culto ativo por tanto tempo sem interferência. Será que ele era apenas um criminoso insano ou havia algo maior por trás disso?
O livro que inspirou o documentário e o impacto duradouro
O documentário é baseado no livro “Chaos: Charles Manson, the CIA, and the Secret History of the Sixties”, de Tom O’Neill. O autor passou mais de 20 anos investigando não apenas os crimes de Manson, mas também possíveis ligações dele com operações secretas do governo americano. A obra traz entrevistas, documentos e uma análise aprofundada que sugere que Manson poderia ter sido monitorado – e até mesmo protegido – por certas instituições antes de seus crimes.

A ideia de que um culto como o de Manson poderia ter sido influenciado por fatores externos levanta um debate interessante: e se ele tivesse sido detido antes? A manipulação psicológica que ele exerceu sobre seus seguidores era impressionante, mas o fato de ele ter passado por tantas situações suspeitas sem ser preso antes dos assassinatos ainda gera questionamentos até hoje.
Música não faz ninguém matar, mas gente doida usa qualquer desculpa
A grande verdade é que a música não transforma ninguém em assassino. Os Beatles não tiveram nada a ver com os crimes de Manson, e Helter Skelter nunca foi sobre guerra racial – na verdade, Paul McCartney escreveu a música sobre uma montanha-russa e ficou horrorizado quando ela foi associada ao massacre.
Mas quando alguém já tem a mente completamente perturbada, qualquer coisa pode virar justificativa. Um filme, um livro, uma música… Tudo pode ser distorcido quando cai nas mãos erradas. No fim, Manson não passou de um psicopata que queria fama e encontrou no caos a sua forma de conseguir isso.
Se ele tivesse sido um músico bem-sucedido, será que os assassinatos teriam acontecido? Difícil dizer. Mas uma coisa é certa: o mundo da música teve um grande alívio quando ele foi parar atrás das grades – e, depois, morreu na prisão em 2017, sem nunca alcançar o estrelato que tanto sonhou.
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