2025 está se consolidando como um ano excepcional para a música, com lançamentos que equilibram experimentação, profundidade emocional e reinvenção de gêneros. De artistas consagrados que desafiam expectativas a novos nomes que estão redefinindo cenas musicais, os primeiros meses do ano já nos presentearam com álbuns que serão lembrados por muito tempo. Nesta lista com os melhores discos de 2025 até agora, os editores Rafael Lima e Carlos Alberto Jr., e o redator Sherman Castelo, selecionaram os 10 trabalhos mais impactantes até agora, abrangendo desde o jazz intimista de Luedji Luna até o rock progressivo da Tubo de Ensaio, passando pelo reggaeton político de Bad Bunny e a MPB futurista de Jadsa.
Seja pela ousadia sonora, pela força das letras ou pela capacidade de capturar o espírito do nosso tempo, esses discos provam que a música segue tão vital quanto sempre. Cada um deles traz uma proposta única, seja resgatando raízes culturais, seja abrindo caminhos inéditos. E o melhor? Ainda temos metade do ano pela frente, com muitas surpresas por vir!
Escolhas de Rafael Lima

Luedji Luna – Um Mar Pra Cada Um / Antes Que a Terra Acabe
Luedji Luna encerra sua trilogia iniciada em 2020 com dois discos que representam o ápice de sua maturidade artística. “Um Mar Pra Cada Um” mergulha em atmosferas jazzísticas e soul, com arranjos sofisticados que remetem a John Coltrane e Sade, enquanto “Antes Que a Terra Acabe” traz um neo-soul mais pop e hedonista, sem perder a profundidade lírica. Juntos, os álbuns exploram o amor, a ancestralidade negra e a busca por pertencimento, consolidando a cantora baiana como uma das vozes mais essenciais da música brasileira contemporânea.
O que mais impressiona é a segurança com que Luedji transita entre o intimismo e a grandiosidade orquestral. Em faixas como “Rota” e “Apocalipse” (esta última com participação de Seu Jorge), ela equilibra poesia filosófica com grooves irresistíveis. Se “Um Mar Pra Cada Um” é uma imersão em águas profundas, “Antes Que a Terra Acabe” é a explosão solar que vem depois – e ambos são indispensáveis.
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Catto – Caminhos Selvagens

Depois de emocionar o país interpretando Gal Costa no projeto “Belezas São Coisas Acesas Por Dentro”, Catto estreia na autoralidade com um disco visceral e autobiográfico. “Caminhos Selvagens” é um álbum de rock com tons orquestrais, onde a artista gaúcha expõe suas dores e desilusões amorosas com uma intensidade raramente vista. Faixas como “Eu Não Aprendi a Perdoar” e “Solidão É Uma Festa” são confessionais sem serem piegas, graças à sua entrega vocal e às produções cinematográficas.
O grande trunfo do disco está na forma como Catto transforma a dor em arte sem concessões. Em “Madrigal”, ela constrói um épico romântico; já “1001 Noites Is Over” funciona como um hino de redenção. Produzido em parceria com Fabio Pinczowski e Jojô Augusto, o álbum é uma jornada emocional que confirma Catto como uma das intérpretes mais poderosas da nova geração.
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Bad Bunny – Debí Tirar Más Fotos

Bad Bunny surpreende ao abandonar temporariamente o reggaeton globalizado para resgatar as raízes porto-riquenhas. “Debí Tirar Más Fotos” é um álbum profundamente pessoal e político, onde o artista mistura salsa, bomba, plena e jíbaro com suas batidas características. A faixa-título, uma reflexão sobre memória e identidade, sintetiza o conceito: é um disco sobre preservar cultura em um mundo que tenta homogeneizá-la.
Além da riqueza musical, o álbum se destaca por suas colaborações locais e letras afiadas. Em “Lo Que Le Pasó a Hawaii”, Benito critica a influência estadunidense em Porto Rico, enquanto “Baile Inolvidable” mescla salsa e reggaeton em seis minutos de pura celebração. Mais do que um retorno às origens, “DTMF” é uma declaração de amor à latinidade – e um dos trabalhos mais maduros de sua carreira.
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Lady Gaga – Mayhem

Após explorar jazz e eletrônica, Lady Gaga volta ao pop dançante em “Mayhem”, seu álbum mais diverso desde “ARTPOP”. A abertura com “Disease” e “Abracadabra” prometia um retorno ao caos criativo dos anos 2000, mas o que se segue é um disco polido, que equilibra nostalgia dos anos 80 (“Garden of Eden”) e experimentos sombrios (“Killah”, com Gesaffelstein). A produção de Andrew Watt e Cirkut garante que cada faixa brilhe, mesmo quando soam familiares.
O álbum não atinge a ousadia de “Chromatica”, mas tem momentos de genialidade. “The Beast” é uma balada noir hipnótica, enquanto “Perfect Celebrity” tenta (e quase consegue) recapturar o espírito de “Paparazzi”.
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Escolhas de Carlos Alberto Jr
SPELLLING – Portrait of My Heart

Chrystia Cabral, a mente por trás do projeto SPELLLING, troca o barroco cósmico de “The Turning Wheel” por um rock visceral e autobiográfico. “Portrait of My Heart” abre com a faixa-título, um manifesto existencial onde ela grita “I don’t belong here!” sobre guitarras distorcidas. Se antes sua música era orquestral e dreamlike, agora é crua e direta – sem perder a complexidade emocional.
Destaques como “Alibi” (um pop-punk com toques orquestrais) e “Mount Analogue” (balada soulful dos anos 70) mostram sua versatilidade. A reinvenção de “Sometimes” (originalmente da banda My Bloody Valentine) é um fechamento perfeito: onde a original escondia a voz no noise, Cabral a coloca no centro, transformando a música em um hino de vulnerabilidade. Imperfeito, mas fascinante, Portrait of My Heart é o disco mais corajoso de 2025.
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FBC – Assaltos e Batidas

O rapper mineiro FBC surpreende ao abandonar momentaneamente o funk melody de sucessos como “Se Tá Solteira” para resgatar as raízes noventistas do hip-hop nacional em “Assaltos e Batidas. O álbum é uma viagem no tempo ao boom bap popular há 30 anos atrás, mas com a urgência política do Brasil contemporâneo. Faixas como “A Voz da Revolução” (que sampleia discursos de Carlos Marighella) e “Você Pra Mim É Lucro” (com interpolação de BaianaSystem) mostram um artista maduro, que transforma o passado em arma de crítica social.
O que poderia ser apenas um exercício de nostalgia se revela um dos discos mais contundentes do ano. Em “Qual o Som da Sua Arma?”, FBC assume a persona de um traficante para expor a violência estrutural, enquanto “Cosmologia Corporativista do Senhor Arthur Jansen” satiriza o capitalismo com samples de filmes e uma levada quase teatral. Acompanhado por um curta-metragem dirigido por Renan 1RG, Assaltos e Batidas prova que FBC não é apenas um hitmaker – é um dos rappers mais corajosos e politizados da cena atual.
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Tubo de Ensaio – Endofloema

O projeto experimental paulistano Tubo de Ensaio estreia em grande estilo com “Endofloema”, um álbum conceitual que explora a relação entre humanidade e natureza através de uma linguagem sonora única. Misturando rock progressivo, jazz e elementos teatrais, o disco funciona como um organismo vivo – tal qual sugere seu título, que remete ao tecido vegetal responsável pelo transporte de nutrientes. Faixas como “Ardil” e “Taioba” constroem narrativas surrealistas, onde os instrumentos (especialmente os sopros de Gabriel Gadelha e os teclados de Lorena Wolther) assumem personalidade própria, guiando o ouvinte por paisagens sonoras mutantes.
O grande trunfo do álbum está na sua capacidade de conjugar complexidade técnica com emotividade crua. “Orvalho”, ponto alto do disco, começa introspectiva e cresce em um clímax de guitarra e vocais entrelaçados, enquanto “Jurema” encerra a jornada com uma atmosfera quase ritualística. Produzido de forma independente, Endofloema é um feito raro: denso o suficiente para satisfazer ouvintes exigentes, mas cativante desde a primeira audição. Uma estreia que posiciona a molecada da Tubo de Ensaio como uma das bandas mais originais do Brasil hoje.
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Jadsa – big buraco

Quatro anos após “Olho de Vidro”, a baiana Jadsa retorna com “big buraco”, seu trabalho mais ousado e politizado até agora. O disco funde MPB, neo-soul e hip-hop em uma sonoridade que é ao mesmo tempo ancestral e futurista, como evidenciado logo em “tremedêra”, onde metais suingados colidem com letras afiadas sobre resistência. Produzido em apenas sete dias com Antônio Neves, o álbum captura a energia do improviso sem perder o acabamento impecável – um equilíbrio raro que lembra os melhores momentos de Elis Regina e Jorge Ben em diálogo com Arca e Björk.
Se a musicalidade já seria suficiente, Jadsa eleva o projeto com letras que confrontam a violência estrutural do Brasil. “no pain” (regravação de um demo anterior) transforma a dor em mantra, enquanto a faixa-título encerra o disco com um golpe: “big fuzil / big Brazil”, sussurrado sobre um piano dissonante. big buraco não é apenas um álbum excelente – é um manifesto artístico que confirma Jadsa como uma das vozes mais urgentes e inventivas da música brasileira contemporânea.
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Escolhas de Sherman Castelo
GIANT – Stand And Deliver

A lenda do rock melódico GIANT está de volta com seu aguardado sexto álbum, “Stand And Deliver”, um trabalho que honra o legado da banda enquanto eleva seu som a novos patamares. Com uma formação renovada, o disco mescla a essência clássica do grupo – marcada por riffs potentes, vocais arrebatadores e melodias inesquecíveis – com uma produção moderna. Destaques como “Holdin’ On For Dear Life” e “Paradise Found”, compostas originalmente por Dann Huff em parceria com o falecido Van Stephenson, resgatam a magia do aclamado “Time To Burn” (1992), enquanto faixas como “Hold The Night” mostram a energia revitalizada da nova formação, com Kent Hilli (Perfect Plan) nos vocais e Jimmy Westerlund (One Desire) nos solos de guitarra.
Maltta – Malta Acústico

O álbum “Malta Acústico” marca a volta da banda após um período de hiato, apresentando não apenas uma coletânea de sucessos, mas uma reinvenção acústica que destaca a versatilidade do vocalista Bruno Boncini. Com arranjos que exigem adaptações de tom – em alguns casos, até dois tons abaixo –, o trabalho demonstra a habilidade técnica da banda e a capacidade vocal de Bruno, que já explorou desde dance music até parcerias internacionais.
O disco mescla releituras de hits próprios, como “Primeiro Amor”, com influências do MPB, incluindo uma homenagem a Maurício Manieri em “Bem Querer”. Compacto e dinâmico, com dez faixas (com menos de 40 minutos de duração), o álbum é uma celebração da reintegração de Boncini à banda após uma carreira solo incerta, reforçando o legado do grupo com um toque intimista e renovado. Uma indicação para fãs e novos ouvintes que apreciam fusões de rock, acústico e brasilidades.
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