Os remakes de filmes clássicos tem o mesmo problema, não importa o gênero. A narrativa pode mudar para os tempos atuais, efeitos visuais são aprimorados (para bem ou mal) e até mesmo aspectos da história – como personagens e lugares – são trocados por outros. Mas, acima de tudo, mesmo se o remake for bom, sempre será comparado com a peça original.
É muito mais fácil o original ser melhor. Em “Robocop”, de 2014, de José Padilha, teve um upgrade nas cenas de ação, o visual do policial robô deu uma melhorada, mas não teve sucesso para substituir o clássico. Porém, “It – A Coisa”, de 2017, se tornou um blockbuster, desbancando o filme original e dando uma nova cara para as longa-metragens de horror.
Assim, a tarefa de superar o clássico dos anos 80, Matador de Aluguel de 2024, por ser remake, não é fácil. Em primeiro lugar, Jake Gyllenhaal (“Nocaute”) encarna o papel de Dalton, antes interpretado por Patrick Swayze (“Ghost – Do Outro Lado da Vida”). Algo interessante a notar é que não são o mesmo personagem, já que Swayze fez James Dalton e Gyllenhaal é Elwood Dalton. Coincidência?
Além dos nomes, a história é bem diferente entre uma e outra, com alguns detalhes bem semelhantes. O que chama a atenção é que a nova versão escolhe um tom mais cômico do que o original, com Elwood Dalton levando os capangas para o hospital após ter dado neles uma surra, por exemplo.
A princípio, Dalton não é um cara sério e faz piadas na cara de seus algozes, mas sempre parece que está se contendo. Na premissa, ele é um ex-lutador de MMA que perdeu tudo e vai trabalhar em um bar no interior da Flórida, em que constantemente tem brigas. Mas, ao tentar resolver os problemas no bar, acaba se envolvendo com uma organização criminosa.
Na mesma linha do original, o novo Matador de Aluguel conta basicamente a mesma história de um cowboy misterioso que chega em uma vila atormentada por bandidos, resolve os problemas e vai embora para o pôr do sol. O diferencial é a mistura de comédia e porradaria que Gyllenhaal consegue dar de maneira pontual e maneirada.
A fotografia, nos momentos diurnos, é compostas por cores quentes, ressaltando o clima tropical da Flórida, o mar e a vegetação. Contudo, ela muda para tonalidades dissaturadas em momentos que Dalton deve se tornar a pessoa violenta que é, passando a sensação que estamos entrando em um lado sombrio do personagem que está prestes a perder o controle, mas segurando um pouco.
O mais impressionante são os pontos de perspectiva capturados pela câmera, especificamente em lutas mais intensas em que o personagem está sendo pressionado. A ideia é realmente que o Dalton irá se soltar a qualquer momento e dar um grito de fúria, o que também conta com o talento de Gyllenhaal para mostrar uma pessoa no limite entre está são e ensandecido.
Enquanto muitas cenas lembram a pancadaria da série John Wick, o diretor Doug Liman (“No Limite do Amanhã”) conseguiu captar o estilo de lutas coreografadas certo, modulando entre alívio cômico e brutalidade física. Claro, ajuda muito mais quando se tem Connor Mcgregor (lutador de MMA profissional) participando nas brigas como um vilão louco e psicopata.
A trilha sonora do filme contém faixas de rock, blues e hip hop, adaptando o filme para as tendências da época e dando ritmo para as cenas de ação. Por exemplo, “Horsepower” de Post Malone começa o filme durante uma cena de luta entre dois homens em um bar no meio do nada, assim como no original. Ainda assim, não é a maior surpresa nesta cena.
Dessa maneira, Matador de Aluguel passa a ser um longa divertido mesmo saindo da vibe anos 80 do original. As mudanças de cenário e motivações mais reais dos personagens traz um novo ar para a história.
Tendo visto o filme, não parece se estressar com a ideia de superar o original ou refazer seu sucesso, mas ganha sua própria identidade nos novos anos 20.
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