Há um momento nos episódios 4, 5 e 6 da 2ª temporada de Andor em que você percebe: ninguém aqui está jogando para vencer. Estão jogando para sobreviver. O Império não é um inimigo invencível, e a Rebelião não é um movimento heroico — ainda. São duas bestas feridas, uma tentando estrangular a outra no escuro, antes que qualquer um dos lados tenha força para gritar. E o perigo não está apenas no que o Império faz, mas no que ele vai fazer. Porque cada movimento agora é um passo em direção a algo maior, algo pior. Algo que cheira a fumaça de planetas explodindo.
Cassian Andor (Diego Luna) ainda não é o homem que morrerá em Scarif. Ele é, neste momento, uma peça sendo movida por Luthen Rael (Stellan Skarsgård) em um tabuleiro onde ninguém sabe ao certo quantas dimensões existem. Sua infiltração em Ghorman como Varian Skye não é uma missão heroica — é um teste. Luthen não precisa de soldados. Precisa de sobreviventes. E Ghorman é o lugar perfeito para separar um do outro.
O planeta é um experimento imperial. Não aquele tipo de experimento com superarmas ou clones, mas algo mais sutil: um laboratório de controle. O massacre anterior, aquele que deixou cicatrizes em monumentos e memórias, foi só o primeiro passo. Agora, o Império está construindo algo ali, algo que não deveria existir em um mundo pacífico. Eles querem que a Frente Ghorman reaja. Porque cada ataque desesperado dos rebeldes é uma desculpa para apertar o cerco. Cada explosão, cada emboscada, é uma peça no jogo de propaganda que justificará mais canhões, mais tropas, mais medo.
E o mais brilhante — o mais aterrorizante — é que os rebeldes sabem disso. Eles não são ingênuos. Sabem que estão sendo encurralados. Mas não têm escolha. É como lutar contra um incêndio com gasolina: você pode morrer queimado ou morrer sufocado, mas a casa vai cair.
O Império não erra. O Império provoca
Há uma cena em que Syril Karn (Kyle Soller), o burocrata fracassado que agora se arrasta sob as asas da Inteligência Imperial, assiste a uma reunião secreta da Frente Ghorman. Ele não está lá para impedi-los. Está lá para observar. Porque o Império não quer acabar com a rebelião — quer controlá-la.
Eles poderiam prender todos aqueles rebeldes amadores em uma noite. Mas não o fazem. Porque rebeldes presos são mártires. Rebeldes manipulados são úteis. Se a Frente Ghorman atacar o comboio errado, na hora errada, o Império pode pintá-los como terroristas. Se eles matarem o oficial errado, a resposta não será uma investigação — será um bombardeio.
É assim que o fascismo funciona. Não é sobre força bruta — é sobre gerenciamento de resistência. E Andor mostra isso com uma clareza que dói.
Enquanto isso, em outro canto da galáxia, Saw Gerrera (Forest Whitaker) ensina Wilmon Paak (Muhannad Bhaier) a construir bombas. Não por idealismo, mas por pragmatismo. Saw não acredita em “vitórias morais”. Ele sabe que o Império não será derrotado com discursos. Será derrotado com sangue — muito sangue — e ele está disposto a ser o monstro que afoga o Império no dele.
O mestre de marionetes
Ainda dentro da exploração de personagens moralmente ambíguos, temos Luthen, que, definitivamente, não é um herói. É um estrategista. Enquanto Cassian se arrasta nas sombras de Ghorman, Luthen joga outro jogo — um ainda mais perigoso. Ele não está apenas lutando contra o Império. Está lutando contra o tempo.

Cada movimento dele é calculado para manter a rede de espionagem viva. Quando Kleya Marki (Elizabeth Dulau) remove o dispositivo de escuta da casa de Davo Sculdun (Richard Dillane), não é só uma missão. É um ato de sobrevivência. Se falharem, tudo desmorona. E o mais fascinante é que o Império nem sabe que está lutando contra Luthen. Eles ainda acreditam que a rebelião é uma série de células desconectadas.

Mas Luthen sabe que, cedo ou tarde, o Império vai perceber. E quando isso acontecer, a caçada começará.
Vingança que não cura
Bix Caleen (Adria Arjona) não é mais a mulher quebrada que vimos na 1ª temporada. Ela agora é algo mais perigoso: alguém que não tem mais nada a perder. Sua vingança contra Gorst não é um ato de justiça — é um aviso.

Quando ela o amarra e o expõe ao mesmo tormento que a destruiu, não há triunfo. Não há alívio. Só há o silêncio de quem percebeu que matar o carrasco não mata a dor. Mas ela o faz mesmo assim. Porque se não pode vencer, pode pelo menos ferir. E quando ela e Cassian explodem a instalação, não é uma vitória. É um risco calculado. Porque cada ataque direto acelera o relógio. O Império não ignorará isso. Eles responderão.
Aqui está a verdade que Andor esfrega em nossos rostos: a Rebelião ainda não existe. O que existe agora é um punhado de pessoas desesperadas tentando sobreviver. Mas o Império já sabe que algo maior está se formando. Eles não sabem o quê. Não sabem onde. Mas sabem que está vindo. E quando descobrirem, a resposta não será uma operação policial. Será um exemplo. Algo como o que aconteceu em Ghorman antes — só que maior. Algo como o que acontecerá em Alderaan depois.
Tão perto do fim — no qual já sabemos o destino das peças desse xadrez — Andor segue sendo a obra mais ousada do universo Star Wars, visto que a série se recusa a simplificar a luta contra o Império. Ela mostra a resistência como um organismo vivo – feito de diplomatas como Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), espiões como Luthen, soldados como Vel (Faye Marsay) e Cinta (Varada Sethu), e líderes radicais como Gerrera. E, no centro disso tudo, Cassian Andor, um homem que ainda não é o herói de “Rogue One”, mas que está aprendendo que revoluções não são feitas por indivíduos, mas por coletivos.

Andor funciona justamente porque não é sobre uma guerra estelar. É sobre a nossa guerra, sobre pessoas comuns. Sobre como resistimos, como falhamos, como nos tornamos monstros para combater monstros maiores.
Enquanto outros filmes de Star Wars nos mostram o conflito entre luz e trevas, Andor nos lembra que a verdadeira batalha acontece no crepúsculo – onde todos somos um pouco heróis, um pouco covardes, e completamente humanos.
Que a Força – se é que ela existe – nos ajude.
Os episódios novos da 2ª temporada de Andor são lançados todas as terças-feiras, exclusivamente no Disney+.St
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