Os últimos três episódios de Arcane vieram para gerar polarização. Enquanto alguns defendem que a série seguiu um caminho meio fórmula-de-super-herói, outros defendem que é uma das melhores produções da Netflix atualmente. Quem está com a razão?
Universo paralelo
Pensar em como as coisas poderiam ter sido é um pensamento que todos nós temos em algum momento de nossas vidas, mas que Ekko pode ver com seus próprios olhos. Zaun é linda, as pessoas são felizes, tudo funciona em harmonia. Jinx ainda é Powder, Vander e Silco são amigos. Por outro lado, Vi está morta devido ao “trabalho” arranjado por Ekko quando eles eram mais jovens.
Nesse universo, Ekko pode confiar em Powder e até mesmo se apaixona por ela. Há uma cena bonita e reconfortante dos dois juntos, dançando e conversando. Ele também apresenta para Powder uma versão de Vi que ela não conhece, uma versão “durona”, que ela afirma que só existe pelo medo de perder sua família.
Sim, é como as coisas poderiam ser. Mas para ele, não são, e ele deve voltar para arranjar seu próprio universo. Com a ajuda de Powder e Heimerdinger, ele cria a Hextec, até então inexistente neste universo. Com isso, ele percebe que pode voltar no tempo – com segurança, até 4 segundos atrás (coitado do Heimerdinger…).
Enquanto isso, Jayce se encontra em uma situação mais complexa. Ferido e confuso, ele encontra um martelo. Encarando um homem com capa, ele entende que aquele é o início do fim de Piltover. Muitas informações parecem surgir em sua mente, mas nada que ainda saibamos.
O que é óbvio, é: o Hextec é uma arma poderosa, a princípio criada para mitigar a situação de desigualdade e violência. Contudo, Arcane insiste na ideia que tanto poder e responsabilidade pode gerar um excesso da ambição que nos desvia de nossos objetivos. Jayce parece ter entendido isso, e agiu pensando que Hextec não é a solução dos problemas de Piltover e Zaun, mas a razão pela qual tudo piorou. O universo alternativo confirma essa ideia, não por causa de Hextac, mas porque todo mundo decide ser frouxo e egoísta o tempo todo, praticamente sem exceção.
Evolução gloriosa
O segundo episódio nos revela, ainda de modo obscuro, a obsessão de Rosa Negra por Mel. Mel é uma das magas que, de acordo com as outras, deseja ser usada de arma pela própria mãe. Quando decide tirar satisfações com a mãe, Ambessa se faz de vítima, dizendo como teve que tomar decisões tão difíceis. Por um momento, Mel parece se convencer, pedindo para sua mãe que deixe Piltover e, assim, ela poderá se unir à noxiana. Contudo, não há negociações.
Cega de poder e ambição, Ambessa se junta a Viktor a fim de encontrar a cura da morte e evoluir seus soldados. O poder de Hextec nada mais é que uma manutenção de interesses egoístas, o que se torna mais evidente em Ambessa, e é uma característica que Viktor insiste em ignorar em si mesmo – especialmente quando ele aceita se envolver com uma figura autoritária para alcançar a “perfeição”, o “corpo perfeito” e “evoluído. Eu poderia dar nome aos bois, mas vou deixar que cada um tire sua própria conclusão desse tipo de discurso.
Enquanto isso, Jinx está presa e Vi vai em até ela na intenção de unir forças. Jinx, desesperançosa e e arrependida, deixa Vi na prisão e tenta acabar com a própria vida como se ela fosse a verdadeira razão pela qual o ciclo de matanças continua e pé.
Por um momento, a série coloca Jinx como a cabeça de um povo que pretende ser revolucionário. Em outro, ela é um cachorro magoado e arrependido de seus atos, buscando punições. Tudo isso é interessante, porque a Arcane nos insere em um universo lotado de reacionarismo de todos os lados, em que Piltover e, agora, Jinx, ocupam os dois extremos. Contudo, em uma tentativa de relevar o comportamento violento de Jinx, eles ainda mantém a autoridade, a violência e a guerra como a solução.
Um fim à crueldade e à injustiça
Ekko vai até Jinx e a convence a mudar de ideia. Em Piltover, a situação avança para uma guerra. Caitlyn é a cabeça do Conselho, e também há uma insistência de Arcane em colocá-la como uma espécie de mocinha na história, quando ela é, na verdade, uma das reacionárias durante toda a série. Aqui, não é diferente.
Cait assume uma posição de autoridade e comanda soldados capazes de morrer por ela. Ela, que confessou não ser difícil odiar o povo de Zaun, que usou gás tóxico contra eles, que mantém Vi por perto por ver nela algum conceito de bondade.
Contudo, é certo que, em comparação a Ambessa, Cait é quase moderada. Na luta entre elas, Mel intervém, revela-se para sua mãe, prendendo-a para depois a soltar e deixá-la morrer em seus braços. Havia alguma esperança de redenção na morte de Ambessa?
Enquanto isso, a união entre Jinx e Ekko é realmente empolgante de se ver. O estado de Vander é muito triste e, após vermos todos unidos, nos depararmos com essa situação é como levar uma facada pelas costas.
Em busca de remediar a situação, Jayce luta contra Viktor – que também assume uma postura extremamente reacionária –, convencendo-o de que essa busca pela perfeição não compensa. Quantos perdemos? Quanto foi destruído? Viktor argumenta que essa postura levará ao fim da crueldade e injustiça, assumindo que pela “paz” e pela “ordem”, toda violência é plenamente justificada.
É bonito, porém, quando Jayce consegue impedir que a situação progrida, trazendo seu amigo de volta dessa seita que Viktor mesmo criou. Contudo, o sucesso de Jayce tira todos daquela espécie de flutuação e, devido a isso, Vander e Vi voltam a brigar. Jinx separa os dois e se sacrifica, caindo com Vander.
A morte de Jinx é curiosa para mim, pois parece ser o fim do seu “arco de redenção”. Apesar de eu não ser uma jinxer, é estranho para mim como ela foi a escolhida para se sacrificar, juntando-se à Ambessa na lista de pessoas-que-deveriam-morrer, enquanto outros responsáveis por toda a tragédia (Cait, Viktor e até Jayce e outros membros do Conselho) permanecem intactos e perdoados.
Ao final, um corvo de Raum aparece e Arcane termina com a introdução de outra possível série. “Nossa história ainda não acabou”. De fato, ainda existem cartas a serem postas na mesa.
De modo geral, Arcane é uma série boa. Ela é bonita e empolgante, faz com que você se importe com, pelo menos, alguns dos personagens. Contudo, parece ter sido um desafio inserir um único personagem que não enxergasse na militarização e violência a solução para seus problemas. De qualquer modo, foi uma experiência interessante e, caso uma outra série do universo de LoL surja, certamente será acompanhada por nós.
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