O episódio 6 da 4ª temporada de The Boys traz à tona um debate antigo: o fim justifica os meios? Qual o limite da traição e sofrimento causado para, enfim, alcançar a autonomia da sua classe? Para onde direcionar todo esse ódio? E é claro que começaremos falando da nossa amiga, a Mana Sábia.
Maquiavel em pessoa: Mana Sábia tem um plano?
Com sua acidez e cabecinha pensante, a Mana Sábia é facilmente um dos personagens mais maquiavélicos da série. Neste episódio, essa característica foi ainda mais ressaltada durante a reunião entre alguns Supers e os bilionários.
Enquanto Neuman não suportava mais “paparicar” os velhos ricos, Sábia revela que, quando era criança, viu sua avó, uma ex-Pantera Negra, sofrer muito até morrer. Tudo isso se deu devido à negligência dos “homens-brancos-velhos-gordos” com a saúde da idosa após ignorarem a cura que Sábia havia desenvoldido. Desde então, ela parece não se importar em se infiltrar no meio deles para que, no fim de todo esse teatro, ela passe por cima deles. Como, a gente ainda não sabe.
Apesar de eu gostar da ideia de se fazer de amigo dos inimigos, é inegável que ela teve parte na violência contra pessoas “inocentes” (os homens que morreram nas mãos do Trem-Bala, “Noir” e Profundo) e também contra pessoas de sua própria classe, como a exposição do aborto da Luz-Estrelar. Isso faz com que eu me pergunte: Sábia está do lado dos Supers e dos oprimidos ou do lado de si mesma?
O poder do discurso
Depois disso, Neuman entendeu a importância de “paparicar” a velharada bilionária. Enquanto o Capitão Pátria tenta fazer o seu discurso de sempre para os ricaços, uma das mulheres presentes interrompe o Super para criticar essa repetição. De repente, um bombardeio de questionamentos começam, evidenciando os furos no plano do Capitão.
É aí que Neuman surge com um discurso um pouco mais diferente, profundo e poderoso. Com os bilionários, a abordagem deve ser diferente. Apesar de poderem votar e decidir quem fala por quem, a massa não exerce quase nenhum poder. Afinal, os ricos sabem que a massa é ignorante e, portanto, “toma decisões ignorantes”. Portanto, nada impede que os bilionários tomem as rédeas para benefício próprio.
Neuman sabe exatamente o que eles querem ouvir e discursa pensando nisso, diferente do Capitão que, até agora, falava pelas massas que, sim, podem ser cruéis e cheia de preconceitos, mas não dão a palavra final. Enfim, esse papo sobre democracia e ignorância das massas é algo que costuma fazer mais sentido nesse contexto capitalista, uma vez que as massas são como fantoches das marcas criadas por quem realmente toma as decisões.
E quem toma as decisões ainda são os escravocratas
Existe toda uma onda de ódio contra os emergentes que, sim, eu entendo totalmente. Contudo, antes de exaltarmos os “verdadeiros ricos” com o seu “old money“, vale perguntar de onde veio todo esse dinheiro.
Longe de mim afirmar que todo velho rico com o seu dinheiro velho acumulou sua fortuna por meios injustificáveis (ha, ha, ha). Contudo, em The Boys, é exatamente isso o que acontece. Em meio a todos esse bilionários, há o Tek Knight, ou Cavaleiro Tek. Sua fortuna é antiga e começou com a caça aos escravos nos Estados Unidos.
Até hoje, sua família é influente e surfa no dinheiro adquirido por meio do sofrimento de muitas pessoas, pessoas essas que a geração mais nova da família ainda despreza. Em The Boys, é importante que a massa seja realmente ignorante e sem poder de ação efetivo para permitir que os racistas e misóginos de sempre continuem jogando o jogo que são especialistas: ascender em cima dos mais fracos.
Toda essa sede por poder também é evidenciada pelo Profundo que, conversando com o “Noir”, diz que o verdadeiro Noir sentia tesão após matar muitas pessoas. Isso porque, por meio da violência, é possível alcançar o respeito e também o poder. Há, enfim, uma relação relativamente próxima entre sexo, poder e violência. E isso nós também vimos na “Caverna do Cavaleiro Tek”.
Bruto e seu Clube da Luta
“Where is my mind“? No final do episódio, descobrimos que Bruto está tão mal pelo V que tomou que, além de ver sua ex-namorada, vê também seu amigo morto. Ambas as visões são como o “anjinho” e o “diabinho” em seu ouvido, provando o ponto do Prof. Vitus em “O Segredo da Múmia” de que toda pessoa tem um lado totalmente bom e totalmente mal.
O anjinho e diabinho de Bruto parecem ser o resto de consciência dele lutando pelo poder e guiando suas decisões, visto que ele mesmo está meio incapacitado. Enquanto isso, descobrimos também que criar um novo vírus capaz de matar o Capitão Pátria não é tão fácil como parece, podendo gerar um genocídio de Supers, matando Kimiko, Luz-Estrelar e Ryan. Agora, um jogo ético e maquiavélico começou.
