E não, não estamos falando da Neuman, mas dos nossos amados jovens (Gen V) responsáveis pelo futuro de toda uma nação. No último episódio da 4ª temporada de The Boys, foram tantos acontecimentos que uma crítica se torna ainda mais desafiadora.
Afinal, dissertar sobre cada camada da série é uma tarefa muito complicada. Até aqui, acompanhamos não apenas o Capitão Pátria e os Meninos, mas a particularidade de cada um deles: Leitinho, Hughie e Annie com suas famílias; Kimiko e Francês com o passado; Bruto com sua ex e, agora, Ryan.
Além disso, acompanhamos também a vida de cada um dos Supers da Vought, em especial o Trem-Bala e o Profundo. E não podemos nos esquecer da Ashley… De qualquer modo, este último episódio foi muito mais super-herói coded em relação aos demais. Vamos lá?
Traiu ou não traiu?
Essa pergunta, que geralmente ouvimos em toda discussão sobre Dom Casmurro, está se tornando cada vez mais presentes no universo dos super-heróis. Acontece em X-Men e, agora, em The Boys.
Com Annie sendo vítima da metamorfa no útlimo episódio, a impostora toma o lugar dela, tem acesso ao seu passado e pensamentos e, assim, consegue emboscar Hughie. Além de deletar os arquivos que acusam Neuman, ela decidiu sacanear Annie ao ter relações sexuais frequentemente com Hughie – experimentando bastante – e até pedir ele em casamento.
Todo esse esforço, acredito eu, não era necessário para proteger Neuman. De alguma forma, a metamorfa queria atingir Annie, especificamente. Após ser descoberta, Annie se sente muito ofendida pelo acontecido, mas… será que com razão?
Poderíamos argumentar que com zero razão, afinal, Hughie pensou que fosse ela quando aceitou se casar e teve relações sexuais. O ponto aqui, porém, não é esse, e sim que Hughie, aparentemente, gostou dessa versão divertida, feliz e animada de Annie que a metamorfa trouxe.
Esse é um ponto legítimo. Culpar Annie por se sentir mal por isso é ignorar toda a sua fragilidade e vulnerabilidade até aqui. Por outro lado, culpar Hughie por ter sido enganado – e gostar daquela versão de Annie – também não é justo. Toda a questão parece existir para mostrar que nem toda situação é tão preto no branco assim, um maniqueísmo muito comum em filmes e séries de super-heróis.
O diabinho de Bruto estava certo?
Desde que a série revelou que o amigo de Bruto era fruto de sua imaginação, imagino ele como um diabinho que dá ideias ao personagem. Um lado mau.
Nos últimos episódios, Bruto lutou bastante contra ele, ignorando suas provocações. Além disso, esteve relutante em relação ao vírus capaz de matar o Capitão, por causa de Ryan. Contudo, tudo parece ter mudado quando Ryan foi visitá-lo enquanto estava internado.
Grace, com toda sua ansiedade, entrega todo o jogo para o menino. Conta sobre as atrocidades que seu pai fez. Enquanto isso, Bruto confessa que Ryan é o único capaz de deter o Capitão.
Não é necessário discorrer muito para enxergar toda a situação como um excesso de informação pro menino, que não recebe nada disso muito bem. Para piorar, todo o ambiente não contribuiu para o humor de Ryan, que percebe que está em um prédio feito para conter “pessoas como ele”, assim como fizeram com seu pai.
E é assim que Bruto e, principalmente, Grace, dão um tiro no próprio pé e correm o risco de perder qualquer apoio por parte de Ryan. É nesse momento que o diabinho de Bruto parece falar mais alto e age por ele.
Dá tudo errado, até que dá tudo certo
Furioso por causa de Ryan, Capitão Pátria desconta sua frustração em tudo o que é animado ou inanimado. Sua principal vítima foi Neuman, desmascarada como Super para todo o mundo.
Agora, a única opção restante para ela é ser um fantoche para proteger sua filha ou esconder Zoe em algum lugar para ter alguma autonomia. Mas nada disso importa, porque Bruto chega com V nas veias e mata Neuman, deixando Zoe órfã.
De repente, uma tarefa que parecia impossível foi realizada assim, sem mais nem menos, e sem qualquer arrependimento por parte de Bruto. Essa pode não ter sido a melhor hora para agir…
Afinal, Sábia aparece para o Capitão dizendo que o plano está sob controle: o concorrência foi flagrada falando sobre matar Neuman e, agora, todos podem pensar que quem a matou foi um concorrente à presidência. Se isso será melhor ou pior para os Meninos, não sabemos.
Até o momento, é difícil saber dizer “qual é” a da Sábia. Em muitos momentos, ela parece estar fazendo algo por saber que dará a volta por cima. Contudo, agora, parece estar genuinamente apoiando tudo o que tem acontecido até então.
Quando a Gen Z V estraga tudo
No final do episódio, a série fica bem super-herói coded: música “épica”, super poderes, ação e muita adrenalina. Quase me senti assistindo a algum filme da Marvel. O final também nos dá a impressão de que tudo vai ficar bem, até que não fica.
Os jovens Supers estão aliados à Vought e acabam prejudicando a fuga de Annie e Hughie, bem como a de Francês e Kimiko (que volta a falar diante do desespero que sentiu).
É aí que a série imita a vida, ao demonstrar uma juventude absorta em seus problemas e incapaz de pensar por si própria, servindo como marionetes para um sistema que finge apoiar sua própria classe, esquecendo que estão apoiando ideais que têm impacto real no mundo real.
Eles se esquecem que não se trata apenas de uma discussão sobre a “liberdade” dos Supers, mas há também nazismo e misoginia em toda essa confusão. De qualquer modo, é possível que veremos o porquê deles terem escolhido esse lado na próxima temporada de Gen V.
Enquanto isso, o vírus segue intacto com um dos poucos e verdadeiramente anti-heróis da série, Bruto, e Soldier Boy parece estar de volta – assim como os poderes de Annie.
Leia as críticas dos capítulos anteriores:
- Crítica | The Boys – 4×7: a televisão é o maior dos Supers
- Crítica | The Boys – 4×6: o fim justifica os meios?
- Crítica | The Boys – 4×5: da culpa cristã à vingança
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- Primeiras impressões | 4ª temporada de The Boys ataca um ‘espantalho’ bastante vivo e real
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