O cinema sempre teve um pezinho na futurologia. Desde os primórdios da ficção científica, roteiristas e diretores colocam no papel (e na tela) suas ideias mais mirabolantes sobre como será o mundo daqui a décadas ou até séculos. E o mais impressionante? Algumas dessas previsões acabam se tornando realidade.
Claro, nem sempre os filmes acertam em cheio. Às vezes, eles exageram na criatividade, apostam em tecnologias que nunca saem do papel ou erram feio nas datas. Mas mesmo quando falham, essas histórias influenciam a inovação, inspiram cientistas e moldam a forma como imaginamos o futuro. Vamos relembrar os maiores acertos e os erros mais épicos do cinema quando o assunto é prever o que está por vir.
Os filmes que acertaram na mosca
Algumas produções conseguiram prever com precisão tendências que pareciam impossíveis na época.
De Volta para o Futuro II (1989)
Quando Marty McFly viajou para o “futuro” de 2015, o filme apresentou inovações como tênis que se amarram sozinhos, skates voadores e telas gigantes espalhadas pela cidade. E não é que algumas dessas ideias realmente saíram do papel?
A Nike lançou um modelo inspirado nos tênis do filme, com tecnologia de autoajuste. Os hoverboards também viraram realidade, mas ainda não flutuam como no longa, funcionando mais como versões avançadas de segways. Além disso, a ideia de casas cheias de telas e vídeo chamadas se tornou comum, provando que De Volta para o Futuro II teve um olhar bem afiado para as mudanças tecnológicas.
Mas e os carros voadores? Apesar de ainda não serem uma realidade cotidiana, empresas como a Alef Aeronautics já estão desenvolvendo modelos funcionais. Segundo um artigo já publicado aqui no Conecta Geek, projetos inspirados no filme continuam avançando e podem se tornar viáveis no futuro próximo.

2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)
A obra-prima de Stanley Kubrick imaginou um mundo de inteligência artificial avançada e comunicação via telas. O HAL 9000, sistema operacional que controla a nave no filme, lembra muito os assistentes virtuais que temos hoje, como Alexa e Siri.
Além disso, o filme previu videoconferências, tablets e viagens espaciais comerciais, conceitos que pareciam distantes na época, mas que já fazem parte do nosso cotidiano. Embora não tenhamos missões tripuladas para Júpiter, a exploração espacial está mais avançada do que nunca.

Minority Report (2002)
O longa de Steven Spielberg apresentou um mundo onde anúncios personalizados perseguiam as pessoas, algo que parecia distante, mas que se tornou realidade com os algoritmos de publicidade digital.
Hoje, basta pesquisar um produto para começar a ver propagandas relacionadas em redes sociais e sites. Além disso, os gestos usados por Tom Cruise para manipular telas serviram de inspiração para tecnologias de realidade aumentada e interfaces interativas, provando que a ficção científica pode ser um grande laboratório de ideias.

Ela (2013)
A relação entre o personagem de Joaquin Phoenix e seu assistente virtual parecia algo saído de um futuro muito distante, mas a realidade está mais próxima do que imaginávamos.
Hoje, assistentes de IA já conseguem manter diálogos complexos, expressar empatia e até aprender com as interações. O filme também levanta questões sobre a dependência emocional da tecnologia, um tema cada vez mais relevante na era digital.

O Vingador do Futuro (1990)
No filme, as pessoas podiam viajar para destinos simulados por meio de implantes de memória, um conceito que parecia ficção pura, mas que já está sendo estudado por neurocientistas.
Pesquisas sobre estimulação neural e realidade virtual avançada indicam que, no futuro, poderemos “reviver” memórias ou criar experiências imersivas sem sair do lugar, um primeiro passo para a tecnologia imaginada no longa.

Akira (1988)
O clássico anime dirigido por Katsuhiro Otomo se passa em 2019 e mostra uma Tóquio futurista com tecnologia avançada, ciborgues e um governo autoritário. Mas um detalhe específico foi impressionante: o filme previu que a cidade sediaria as Olimpíadas de 2020! No longa, há até um outdoor anunciando os Jogos, com a mensagem “Apenas 147 dias para as Olimpíadas”, algo bem assustadoramente próximo da realidade. Claro, a pandemia adiou o evento, mas a previsão foi certeira.
Além disso, o filme trouxe conceitos que se tornaram comuns na ficção e na realidade, como engenharia genética avançada, gangues de motoqueiros tecnológicos e a estética cyberpunk que influenciou gerações.

Guerra nas Estrelas (1977)
O primeiro filme da saga de George Lucas trouxe várias ideias futuristas, mas uma das mais impressionantes foi a tecnologia dos hologramas usados para comunicação. Hoje, já existem protótipos de hologramas interativos que podem ser usados para videochamadas ou apresentações ao vivo, algo que parecia impossível nos anos 70. Outra previsão interessante foi a criação de próteses robóticas superavançadas, como a mão de Luke Skywalker, que hoje têm equivalentes no mundo real, graças ao avanço da biomecânica.

O Hospedeiro (2006)
O filme sul-coreano de Bong Joon-ho, além de ser um ótimo thriller de ficção científica, fez uma previsão sombria sobre pandemias e o impacto da poluição ambiental. No enredo, um produto químico despejado no rio Han acaba gerando uma criatura mutante, mas o mais assustador é que a trama inclui uma misteriosa doença respiratória que causa pânico na população. Com a pandemia de COVID-19, muitas das cenas do filme parecem mais realistas do que nunca, mostrando como a ficção pode prever desastres sanitários e a resposta desastrosa de governos.

Tetsuo: O Homem de Ferro (1989)
Esse cult japonês levou o conceito de transumanismo ao extremo, mostrando um homem que se transforma lentamente em metal. Embora não tenhamos chegado a esse ponto (ainda bem!), a nanotecnologia e as próteses avançadas já são uma realidade, e há estudos sobre a possibilidade de fusão de tecidos humanos com materiais sintéticos.

E aqueles que erraram feio?
Nem tudo são acertos. Alguns filmes apostaram em tecnologias que pareciam certeiras, mas que (ainda) não se tornaram realidade.
Blade Runner (1982)
O clássico de Ridley Scott imaginou um 2019 cheio de carros voadores, mas, até agora, continuamos presos nos congestionamentos.
Embora existam protótipos de veículos aéreos, eles estão longe de serem acessíveis ao público em geral. Além disso, os replicantes, androides altamente sofisticados do filme, ainda são pura ficção, já que a robótica não avançou a esse nível de perfeição biológica.

O Demolidor (1993)
O filme previu um futuro onde papel higiênico foi substituído por três misteriosas conchas no banheiro, um conceito que nunca foi explicado direito e que, felizmente, nunca se concretizou.
Além disso, imaginou uma sociedade completamente censurada e politicamente correta ao extremo, algo que não aconteceu da forma exagerada que o roteiro sugeria.

2012 (2009)
Baseado na teoria de que o mundo acabaria em 2012, o filme mostrou desastres climáticos catastróficos e o colapso total da civilização.
Apesar das mudanças climáticas serem uma preocupação real, nada aconteceu da forma apocalíptica prevista pelo longa, provando que nem toda ficção-catástrofe se torna realidade – ainda bem, né?!.-

O Passageiro do Futuro (1992)
O filme apostou que a realidade virtual dominaria completamente nossas vidas, o que ainda não aconteceu.
Embora a VR tenha avançado bastante, ela ainda não é tão popular e imersiva quanto o longa sugeriu, sendo usada principalmente para jogos e treinamentos específicos.

2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)
Sim, o filme acertou em várias previsões, mas também imaginou que, em 2001, já teríamos colônias na Lua e missões tripuladas para Júpiter.
Apesar dos avanços na exploração espacial, ainda estamos longe de estabelecer bases fora da Terra.

Battle Royale (2000)
O conceito de um jogo mortal entre adolescentes não aconteceu (ainda bem), mas inspirou “Jogos Vorazes” e vários battle royales nos games. No entanto, a ideia de um governo autoritário que usa tecnologia para controlar a população continua sendo uma preocupação real em alguns países.

Casshern (2004)
O filme apostou na ideia de regeneração celular completa e imortalidade via engenharia genética, algo que ainda está muito longe de ser alcançado.

Gantz (2011)
O longa apostou na criação de armaduras biomecânicas e armas de teletransporte para combater ameaças alienígenas. Por enquanto, nada disso saiu do papel.

O cinema influencia a tecnologia?
Se os filmes tentam prever o futuro, também é verdade que eles inspiram inovações. Empresas de tecnologia adoram transformar ficção em realidade. O celular flip, por exemplo, foi inspirado no comunicador de Star Trek (1966), e a ideia dos tablets veio de 2001: Uma Odisseia no Espaço.
A Boston Dynamics já criou robôs que lembram os androides de O Exterminador do Futuro (1984), enquanto o Google Glass tentou trazer os óculos inteligentes de Minority Report para o mundo real. Embora o projeto original tenha fracassado, a tecnologia de realidade aumentada continua evoluindo.
A inteligência artificial, tema recorrente no cinema, também está cada vez mais presente no nosso dia a dia. Hoje, temos assistentes virtuais sofisticados e robôs que aprendem sozinhos, algo que antes parecia exclusivo da ficção científica.
O que os filmes de hoje estão prevendo?
Se seguirmos essa lógica, o que será que as produções atuais estão tentando nos dizer sobre o futuro?
- Carros autônomos como em “Ela” (2013)? Empresas como Tesla e Waymo já estão avançando nesse setor.
- Humanos vivendo no espaço como em “Interestelar” (2014)? A NASA e a SpaceX continuam trabalhando para colonizar Marte.
- Realidade virtual avançada como em “Jogador Nº1” (2018)? O metaverso pode ser um passo nessa direção.
Por outro lado, será que estamos exagerando em algumas previsões? Será que robôs conscientes como em “Ex-Machina” (2014) ou andróides superinteligentes como em “Westworld” (2016) realmente vão existir um dia?
O jeito é esperar pra ver. Mas uma coisa é certa: o cinema nunca vai parar de imaginar o futuro — e, às vezes, ele acerta mais do que imaginamos.
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