O uso de inteligência artificial (IA) para modificar sotaques e vozes em dois filmes cotados ao Oscar 2025 – O Brutalista e Emilia Pérez – gerou polêmica na indústria cinematográfica. As produções, apesar de aclamadas, agora enfrentam críticas por utilizar a tecnologia para alterar aspectos das performances dos atores. A utilização da IA levanta questões éticas sobre os limites da tecnologia na arte e pode influenciar a percepção dos votantes da Academia. Entenda cada caso.
O uso de IA em O Brutalista
Dirigido por Brady Corbet, O Brutalista é um dos principais concorrentes ao Oscar deste ano. O filme, que segue a história de um arquiteto húngaro que foge para os EUA após a Segunda Guerra Mundial, recebeu elogios da crítica, mas o uso de IA para aprimorar o sotaque dos atores Adrien Brody e Felicity Jones nas falas em húngaro causou polêmica.
Em entrevista ao RedSharkNews, o editor do filme, Dávid Jancsó, explicou que a IA foi usada para corrigir a pronúncia de Brody e Jones. “O húngaro é uma língua difícil, e queríamos garantir que a pronúncia fosse precisa, até mesmo para os nativos”, justificou Jancsó.
Após tentativas de regravações de áudio (ADR) e substituição dos atores por dubladores, a equipe decidiu recorrer à IA para ajustes nos detalhes vocais, buscando manter a naturalidade das performances.

Além disso, a IA foi usada para criar imagens digitais de desenhos arquitetônicos, inspirando o ilustrador responsável pelas artes vistas no filme. Embora tenha sido uma escolha consensual pelos atores, a técnica gerou críticas sobre a autenticidade da atuação.
Emilia Pérez e a modificação da voz de Karla Sofía Gascón

Em Emilia Pérez, dirigido por Jacques Audiard, a IA foi usada de maneira diferente, focando na modificação da voz da atriz Karla Sofía Gascón, que interpreta uma personagem trans em processo de transição de gênero.
Durante o Festival de Cannes 2024, o técnico de som Cyril Holtz revelou, em entrevista ao portal CST, que o software Respeecher foi utilizado para ajustar a voz de Gascón, permitindo que ela alcançasse as notas musicais exigidas pelas cenas, uma vez que a atriz não conseguia atingir certas tessituras devido à sua transição vocal.
“O caso de Gascón foi mais complicado, pois ela já havia feito a transição de gênero e alguns registros vocais não estavam mais acessíveis”, explicou Holtz
A escolha gerou controvérsias, com críticos questionando a representatividade, principalmente por se tratar de uma personagem em transição de gênero. O uso da tecnologia pode ser visto como uma simplificação da complexa experiência trans, levando a debates sobre a adequação da decisão.
Impacto nas campanhas ao Oscar 2025
As recentes revelações sobre o uso de IA em O Brutalista e Emilia Pérez podem afetar significativamente a percepção dos votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, especialmente nas categorias de atuação, onde a autenticidade e a complexidade das performances são criteriosamente avaliadas.
Em O Brutalista, a utilização de IA para corrigir o sotaque húngaro do personagem principal pode ser vista como uma tentativa de otimizar a precisão técnica do filme. No entanto, isso levanta questionamentos sobre a naturalidade das atuações, uma característica que a Academia frequentemente valoriza. Adrien Brody, um dos grandes favoritos para o prêmio de Melhor Ator, pode ver suas chances prejudicadas devido a essa intervenção tecnológica, já que a categoria costuma premiar performances que pareçam genuínas e imersivas. A ideia de que a IA tenha sido usada para “ajustar” um aspecto fundamental de sua performance pode ser vista por alguns como uma distorção da sua entrega emocional, o que poderia afetar sua recepção pelos votantes.
Por outro lado, em Emilia Pérez, o uso da IA para alterar a voz de Gascón, um personagem trans em transição de gênero, também gerou controvérsias. A tecnologia aplicada pode ser interpretada como uma tentativa de simplificar uma jornada de complexa transição, o que foi questionado por parte da comunidade trans e defensores da diversidade
Muitos acreditam que a decisão de utilizar IA pode diminuir a profundidade e a autenticidade da experiência representada na tela. Este debate tem o potencial de afetar a percepção do filme, especialmente nas categorias que envolvem representatividade e inclusão. O uso de IA para modificar um aspecto crucial de uma identidade trans pode ser visto como uma tentativa de minimizar ou suavizar uma experiência que, por sua natureza, exige maior sensibilidade e respeito pela diversidade.
Além disso, a discussão sobre os limites da tecnologia no cinema deve refletir em outras produções que envolvem representações sensíveis, influenciando, assim, o modo como filmes e performances são avaliados pelos votantes.
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