Por muito tempo vimos a popularização dos jogos soulslike, esse que acabou se tornando um “gênero” na comunidade gamer. Entre os milhares de jogos que acabaram apostando em elementos presentes na tão premiada franquia Souls, criada pela FromSoftware, poucos conseguiram entregar uma proposta diferente do comum.
Podemos dizer que esse é o caso de Another Crab’s Treasure, anunciado no Indie World em maio de 2022 e que só chegou agora, em 25 de abril de 2024, para PlayStation 5, Xbox Series, Switch e PC. Trazendo uma proposta bem diferente de outros soulslike já vistos anteriormente, que ao mesmo tempo, assume um teor bem crítico quanto ao mundo real.
No jogo assumimos Kril, um caranguejo-eremita, que tem sua concha tomada por um Tubarão Agiota, na cobrança de uma velha dívida, que já se tornou uma verdadeira bola de neve com juros (quem nunca, né?!). No controle de Kril, iremos desbravar os mistérios do oceano, em busca de recuperar a concha, mas ao mesmo tempo descobrir que o lugar não é mais o mesmo.
A trama conta com algumas reviravoltas misteriosas, além de personagens interessantes ao longo da jornada, que pode durar cerca de 15 horas, dependendo da habilidade do jogador. Além disso, durante todo o jogo, as críticas e piadas com humor ácido serão constantes, devido a situação do oceano, mas falaremos melhor sobre isso mais adiante.
Um soulslike diferente do comum!
Another Crab’s Treasure se arrisca em uma proposta bem peculiar, tendo em vista que grande maioria dos jogos encaixados no gênero “soulslike” assumem visuais mais medievais ou épocas históricas do Japão, como o período Sengoku, visto em Nioh. O jogo ainda traz um sistema de combate desafiador, como de costume, mas com suas particularidades quanto aos tipos de armas, habilidades e o sistema da concha de Kril.
Nossa armadura é a concha, possuindo diferentes níveis de habilidade, resistência e servindo de proteção extra para Kril, quando usamos a opção de se esconder dentro dela, sendo um total de 59 conchas. Vale lembrar que a medida que levarmos golpes, a sua resistência irá diminuir e por fim quebrar, precisando assim pegar outra concha ou podemos optar por comprar o “seguro concha”, onde podemos recuperar conchas que foram totalmente danificadas.
Assim como nos jogos da franquia souls, aqui temos nossa “fogueira”, os clássicos pontos de descanso. Chamadas de Conchas da Caramuja, os locais funcionam da mesma forma das fogueiras de Dark Souls ou as lâmpadas de Bloodborne. Podemos upar o nível do nosso personagem, recuperar vida e itens que carregamos, utilizar como viagem rápida entre outras Concha da Caramuja que interagimos, mas com isso, os inimigos reaparecem, exceto bosses.
Em Another Crab’s Treasure, nossos microplásticos funcionam como as almas, adquiridas ao abater inimigos em Dark Souls, por exemplo. Ao chegar em uma Concha da Caramuja e interagir com ela, podemos utilizar microplástico para melhorar as quatro habilidades, sendo elas: Vitalidade, Resistência, Ataque e o GMS (Ataque especial da concha).
Além das habilidades de Kril, podemos melhorar nossa arma principal com o ferreiro. Nossa única arma principal é um garfo enferrujado. À medida que melhoramos, seu aspecto visual vai sendo alterado junto, algo bem legal, por sinal. Por outro lado, infelizmente não possui aquela variedade de armas que estamos acostumados em outros jogos, com variação de armas longas, curtas, pesadas e etc.
Um fato bem interessante, e que pode se tornar um atrativo para jogadores menos experientes em soulslike é a possibilidade de personalizar a jogabilidade com opções de acessibilidade. Dentre as opções temos ativar mais vida para nosso herói caranguejo, menos dano dos inimigos, concha mais durável e entre outras possibilidades.
Ambientação se torna uma crítica ao mundo real
No quesito ambientação, Another Crab’s Treasure dá um show a parte. O jogo possui cenários lindos e bem construídos, mesmo que graficamente simples, até porque, vale lembrar que o jogo foi desenvolvido por uma equipe bem pequena.
A melhor parte disso tudo são os cenários que se tornam verdadeiras críticas à realidade das coisas. Um mar tomado por lixo, que vão desde sacolas, bitucas de cigarro e garrafas, a tudo quanto é tipo de porcaria, jogada pelos humanos. O jogo ainda mostra um dia específico, chamado Dia do Lixo, onde todo o lixo é jogado no mar.
Outro ponto é nossa moeda de troca por habilidades, itens e etc, como citado anteriormente, microplástico, obtido a partir do lixo. Fato que é citado logo no início do tutorial, o Tubarão Agiota deixando claro que joias, pérolas e coisas do tipo, não tem mais valor nos tempos atuais.
A presença do humor ácido apresentado em Another Crab’s Treasure se faz necessária, servindo até como um tapa na cara quanto à situação triste dos mares e oceanos ao redor do mundo. O acúmulo de lixo e a poluição são constantemente criticados, mesmo que através de diálogos cômicos.
O brilho é apagado em pouco tempo
É inegável que o estúdio de Another Crab’s Treasure foi audacioso. Mesmo o jogo apresentando visuais cartunescos, o trabalho no design dos locais, ambientação e personagens, passam uma ótima imersão.
Por outro lado, em poucos minutos jogados, já pude presenciar um sofrimento na otimização do jogo. Quedas de FPS, congelamentos por alguns segundos, engasgos, são alguns dos problemas visíveis, que claro, podem ser corrigidos em patches futuros.
E apesar da ambientação muito bem feita, cenários lindos, em contrapartida existem locais que nem deveriam existir no jogo. Percebesse um vazio tremendo, somente para preencher e aumentar sua extensão de áreas.
O mesmo pode ser dito sobre a trilha sonora, que é praticamente inexpressiva. Contando apenas com alguns sons instrumentais, bem repetitivos por sinal, mas nada além disso ou marcante de alguma forma.
Another Crab’s Treasure vale a pena?
O jogo apresenta uma trama consistente, com uma ótima mensagem aos jogadores e uma ambientação muito rica em detalhes, mas que sofre por locais vazios e sem vida. Além disso, sua performance deixa a desejar, mesmo que para um jogo desse escopo.
Infelizmente, Another Crab’s Treasure não é um jogo de grande estúdio, provavelmente assim não recebendo a visibilidade merecida. Mesmo que seus problemas apaguem a oportunidade de brilhar e se torne um título recomendado apenas em uma boa promoção ou através do Game Pass.
Vale destacar que essa análise foi realizada no Xbox Series X, através do Game Pass.
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