Anunciada em fevereiro, a editora Ao Leitor, com Carinho chamou a atenção dos fãs de mangá nos últimos dias com uma promessa ousada – e até mesmo arriscada: lançar a primeira coleção completa de “Urusei Yatsura” no Brasil.
A obra de Rumiko Takahashi, autora de sucessos como “InuYasha” e “Ranma 1/2”, nunca havia sido publicada oficialmente no país. Vendido a R$ 69,70 no site da editora, o primeiro volume já está impresso, trazendo assim mais de 400 página, com previsão de encerrar a série em 15 volumes.
No entanto, o projeto, que surgiu com o objetivo de atender um desejo antigo dos leitores, também levantou sérias dúvidas. Afinal, como uma editora estreante teria conseguido a licença de uma obra tão emblemática, sendo que os licenciantes japoneses são conhecidos pela rigidez? Em entrevista ao site Fora do Plástico, Erik Yoshitaki, responsável então pela editora, revelou que a publicação foi feita sem autorização da detentora dos direitos.
“Meu objetivo com essa publicação é abrir uma fresta no mercado editorial brasileiro e sim, chamar atenção dos japoneses”, explicou Yoshitaki. Segundo ele, o processo de contato direto com a Shogakukan, editora japonesa dona dos direitos de “Urusei Yatsura”, foi frustrado. Após tentativas frustradas pelo site oficial e contatos indiretos, um suposto agente no Japão teria informado o valor do licenciamento — considerado “muito alto e impraticável”. Sem conseguir validar a proposta e sem resposta oficial, Yoshitaki decidiu seguir em frente.

Editora ‘flerta’ com a ilegalidade
A iniciativa, no entanto, esbarra em sérios problemas legais. De acordo com a Lei de Direitos Autorais brasileira (Lei nº 9.610/1998), publicar uma obra sem autorização, mesmo com a justificativa de ser “de fã para fã”, configura violação de direitos. E o próprio editor reconheceu que não possui a licença oficial: “Eu não consegui a licença, pois não consegui chegar à editora de fato”, admitiu assim na entrevista.
Apesar da polêmica, Yoshitaki defende que a criação da Ao Leitor, com Carinho nasceu de um sentimento legítimo: o de resgatar títulos que marcaram gerações e que ainda não chegaram ao mercado brasileiro: “Me cansei de pedir às editoras diversas publicações e nunca ter resposta. É uma tentativa de resgatar obras queridas e apresentá-las com o cuidado que elas merecem”, contou, destacando então que toda a operação é realizada praticamente de forma solo, com apoio apenas de tradutores e revisores pontuais.
Sobre o futuro da editora, Yoshitaki revelou que pretende focar inicialmente em completar “Urusei Yatsura”, mantendo assim uma periodicidade entre dois e três meses por volume. E, embora ainda não tenha novos licenciamentos garantidos, afirma que o objetivo é construir um catálogo que dialogue com a memória afetiva dos leitores – ainda que o caminho para isso esteja, no momento, cercado de incertezas e possíveis polêmicas.
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