A história real bizarra de Assassino por Acaso — Quem foi Gary Johnson?

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Glen Powell protagoniza Gary Johnson em Assassino por Acaso. Foto: Netflix

Era final dos anos 1990 quando um professor universitário de Filosofia e Psicologia conseguiu um emprego na polícia de Houston, nos Estados Unidos. Gary Johnson esbanjava eficiência tecnológica até precisar substituir o colega trambiqueiro no cargo de “hit man” – um assassino de aluguel falso. Mais de 60 pessoas contrataram seus “serviços” para executar rivais — e até mesmo parentes — mas na verdade, a missão deste modesto homem de 50 anos era outra: prender os seus clientes.

Confira a crítica de Assassino Por Acaso, filme que se inspirou na vida de Gary Johnson

A vida dupla de Gary Johnson

Gary nasceu em 1947 em Louisiana, Estados Unidos, e cresceu em uma fazenda. Serviu por um ano no Vietnã, depois tornou-se vice-xerife e, em 1981, se mudou para Houston, Texas, para cursar o programa de doutorado em Psicologia da Universidade de Houston.

Após não ser admitido, aceitou um emprego como investigador do Ministério Público. Em 1989, uma técnica de laboratório de 37 anos chamada Kathy Scott contatou um fiador e disse que precisava de um assassino para matar seu marido. Quando o fiador chamou a polícia, seus chefes lhe disseram: “Gary, você é nosso assassino!”.

O professor, que gostava de jardinagem, cuidava de dois gatos e se divertia com as leituras do psiquiatra Carl Jung e Gandhi, passou a ajudar a polícia a prender assassinos em potencial. Para proteger sua identidade, Johnson dizia aos vizinhos que trabalhava com Recursos Humanos.

Como “assassino”, Gary assumiu diferentes identidades com disfarces inquestionáveis para registrar as confissões de seus clientes e prendê-los antes dos crimes acontecerem.

Cerca de 20 anos depois, o diretor Richard Linklater, (“Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial), retrata uma história baseada na vida dupla de Johnson nos cinemas. Em entrevista à Netflix, o cineasta contou que descobriu Gary ao ler seu perfil escrito por Skip Hollandsworth em um artigo publicado no Texas Monthly, em 2001. Glen Powell, (“Todos Menos Você”), que vive o falso assassino no filme, ajudou no roteiro.

Do bizarro à ficção: como nasceu Assassino por Acaso

A dupla decidiu focar em uma das histórias do artigo para basear a trama. No episódio, Johnson conhece uma mulher que vive um relacionamento abusivo. Desesperada, ela acreditava que a única maneira de acabar com o abuso era executar o parceiro. Sendo assim, contrata o “assassino de aluguel”.

Mas ao contrário dos outros casos, Gary não enganou a cliente. Como a vítima estava em uma situação de vulnerabilidade, o professor decidiu ajudá-la corretamente.

Assim, Gary a encaminhou para uma agência de serviço social para romper o relacionamento em segurança e garantir vaga num abrigo para mulheres na mesma situação. No entanto, os dois supostamente acabaram estabelecendo uma conexão romântica – o que dá vida à sinopse:

“Fingindo ser um assassino de aluguel para prender seus contratantes, o policial Gary Johnson quebra seus protocolos profissionais, assim se colocando em risco, ao salvar uma mulher de seu namorado abusivo”, explica.

Toda a trama após o primeiro encontro de Powell com Adria Arjona, (“Morbius”), é inteiramente inventada. O artigo do Texas Monthly menciona que Johnson foi casado três vezes e foi descrito como “um solitário” por sua segunda esposa.

Dito isso, Linklater trabalhou em alguns detalhes da vida real como uma homenagem ao verdadeiro Johnson. A exemplo, o bordão de Powell “Toda torta é torta boa”, veio de um detalhe do artigo de Hollandsworth. 

Na realidade, Gary gostava de conhecer seus clientes no Denny’s (que foi alterado para o Please U Cafe, de Nova Orleans, no filme), e um desses clientes solicitou que o professor usasse um código secreto para verificar se o cliente tinha o cara certo. Johnson estava comendo torta no balcão quando o cliente se aproximou dele para dizer: “Parece uma boa torta. Ao que ele responderia: “Toda torta é uma boa torta”.

Cafeteria.

Please U Cafe/Foto: Divulgação

Camaleão perfeito

Na época de “assassino”, os advogados de defesa tentavam livrar seus clientes da prisão. Alegavam que eles viviam um “período particularmente estressante de suas vidas”, segundo Hollandsworth. Ao mesmo tempo, pretendiam culpar Johnson: “diziam que os contratantes jamais teriam conspirado se não tivessem conhecido um ‘assassino de aluguel’”, acrescentou.

Na vida dupla, Gary foi amplamente elogiado pelas autoridades. “Ele é o camaleão perfeito”, constou um dos ex-supervisores de Johnson ao Texas Monthly. “Ele nunca fica nervoso e nunca diz a coisa errada. De alguma forma, ele é capaz de persuadir pessoas ricas e não tão ricas, bem-sucedidas e não tão bem-sucedidas, de que ele é real. Ele os engana todas às vezes”, destacou.

Johnson morreu em 2022, pouco antes das filmagens de Assassino por Acaso serem iniciadas.

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