Aconteceu algo curioso enquanto eu assistia ao quinto episódio de Demolidor: Renascido. Depois daquele final eletrizante do quarto episódio, com Muso deixando sua primeira “obra de arte” sangrenta pela cidade, eu esperava que a série continuasse nesse clima sombrio. Em vez disso, fui apresentado a Matt Murdock (Charlie Cox) tentando — sem sucesso — conseguir um empréstimo bancário no Dia de São Patrício. A princípio, pareceu um anticlímax, mas aí percebi que estava diante de um daqueles episódios que, mesmo fora do lugar, tem seu charme peculiar.
Imagine a cena: Nova York toda verde, com pessoas bêbadas cantando em pubs, e lá está Matt, de terno e óculos escuros, ouvindo um gerente bancário dizer que seu escritório de advocacia “não representa um bom risco”. A ironia é deliciosa — o homem que já enfrentou demônios ninjas e criminosos superpoderosos não consegue convencer um banco a confiar nele. Mas justo quando a situação parece ficar monótona, um grupo de ladrões irlandeses invade o estabelecimento, transformando o dia de Matt em um daqueles clássicos filmes de assalto com reféns.
O que segue é uma aula de como mostrar um herói sem seus poderes tradicionais. Sem traje, sem bengala, sem nada além de seus sentidos aguçados e uma teimosia inabalável, Matt se vê forçado a pensar rápido. Há uma cena especialmente brilhante onde ele precisa abrir um cofre sem a combinação, enquanto o gerente — que por acaso é o pai da Ms. Marvel, mas voltaremos a isso — entra em pânico, Matt simplesmente… ouve. O som dos pinos girando, o clique quase imperceptível quando encaixam no lugar certo. É um momento tão orgânico que você quase esquece que está assistindo a um super-herói, parecendo mais um MacGyver de terno.

Falando no gerente, a aparição de Yusuf Khan — o pai da Kamala — é um daqueles elementos que certamente vão dividir opiniões. Por um lado, sua personalidade expansiva e orgulho paternal oferecem um alívio cômico bem-vindo. Por outro, suas referências ao MCU — incluindo a exibição de um Funko Pop da filha — soam um pouco como se a série estivesse dizendo “não se esqueçam, isso aqui é parte de um universo maior!”. É engraçado, mas quebra um pouco o tom mais sério que Demolidor sempre cultivou desde a época da Netflix.
Ainda assim, a química entre Yusuf e Matt funciona. O contraste entre o gerente tagarela e o advogado taciturno rende bons momentos, especialmente quando Yusuf pergunta se Matt já pensou em trabalhar com super-heróis. A resposta seca —”Já tentei. Não deu certo” — é carregada de um peso.
O episódio todo gira em torno de uma questão central: Matt pode realmente deixar o Demolidor para trás? Desde o primeiro episódio, ele jurou abandonar o manto após a morte de Foggy, carregando consigo um fragmento da máscara — os cifres do demônio — como lembrança do que perdeu. Mas aqui, mesmo sem o traje, ele age como o herói de sempre. O momento mais revelador vem no final, quando ele pega um capuz de um dos bandidos e o usa como máscara improvisada para descontar sua raiva no líder dos assaltantes. A expressão em seu rosto diz tudo: a violência ainda está lá, apenas esperando uma desculpa para emergir.

E então, na cena final, quando ele segura o pedaço da máscara original antes de deixá-lo cair no chão, a mensagem é clara: ele ainda não está pronto para vesti-la novamente… mas está chegando perto.
Aqui está o problema, porém: “Ilha da Alegria” é um ótimo episódio, cheio de momentos inteligentes e ação bem coreografada. O problema é o timing. Depois do gancho do quarto episódio, com Muso revelando como produz suas obras, esse desvio para um assalto bancário autoconclusivo parece um pouco… fora de lugar. É como fazer uma pausa para respirar logo quando a história estava ficando realmente interessante.
No final das contas, é como aquele prato no menu que você não planejava pedir, mas acaba gostando. Tem ação inteligente, um Matt Murdock em crise existencial e até um cameo inesperado. Só peca por chegar na hora menos conveniente. Mas ei, pelo menos nos deu um assalto no Dia de São Patrício – e se isso não é motivo para celebrar, não sei o que é.
O episódio pode não ter avançado a trama principal, mas nos lembrou de algo essencial: não importa quantas promessas Matt faça, no fundo, ele sempre será aquele sujeito que não consegue ficar de braços cruzados quando alguém precisa de ajuda. E talvez seja exatamente isso que faça dele um herói — com ou sem a máscara.
Os episódios novos da 1ª temporada de Demolidor: Renascido são lançados todas as terças-feiras, exclusivamente no Disney+.
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