Crítica | Dick Turpin quer roubar seu coração, mas não consegue realizar o assalto

Crítica | Dick Turpin quer roubar seu coração, mas não consegue realizar o assalto

Se um ladrão roubar seu coração primeiro, em seguida, ele pode ter tudo. É mais ou menos essa a lógica de Dick Turpin, um homem vegano, filho de açougueiro, que acidentalmente caiu no mundo do crime, usa para se tornar um lendário bandoleiro. As Aventuras Inventadas de Dick Turpin, a mais nova comédia da Apple TV+, que não deve ser confundida com nenhum dos muitos programas e filmes anteriores que compartilham o mesmo personagem-título, é um pastiche do popular humor inglês, que dessa vez. resolveu brincar uma figura histórica que se tornou uma lenda e suas histórias são tantas que até parecem mentiras.

O público brasileiro pode não estar familiarizado, mas Dick Turpin foi um verdadeiro assaltante de estradas na Inglaterra no século XVIII. Além de alguns elementos de sua história de origem – ele REALMENTE era filho de um açougueiro e morava em Essex –, o resto da série é fortemente ficcional. Esta está longe de ser a primeira dramatização de sua vida, mas pode muito bem ser a mais engraçada.

A série de comédia de seis episódios segue Turpin (Noel Fielding), um homem que se tornou o comandante de uma gang de assaltantes por acidente, enquanto ele tenta fazer sucesso no ramo de roubos. Ele encontra amigos e inimigos ao longo do caminho e se depara com fantasmas, feiticeiros, bruxas e uma escritora de True Crime (crimes reais, em tradução livre) particularmente memorável. Ou seja, é uma mistura desajustada das diversas adaptações de “Zorro” com qualquer maluquice feita pela trupe do “Monty Python”. 

O parquinho de Noel Fielding

Turpin é interpretado com vigor pelo comediante Fielding, que será mais conhecido do público americano como apresentador do The Great British Baking Show, mas é um dos grandes nomes da comédia britânica há anos. Já é hora de Fielding ter sua própria série de comédia depois de dominar game shows britânicos, stand-ups e fazer pontas em ótimas séries – como o gótico executivo em “The It Crowd”. As Aventuras Inventada Dick Turpin é uma caixa de areia feita para Fielding brincar – o que ele faz deliciosamente.

Crítica | Dick Turpin quer roubar seu coração, mas não consegue realizar o assalto

O personagem de Dick é tão reconhecidamente Fielding, até mesmo fantasiado para se adequar ao estilo andrógino e gótico característico de Fielding. Muitas vezes é necessária uma pesada suspensão de descrença para lembrar que esse sujeito chamativo é, na verdade, Dick Turpin e não Fielding. Mas isso não é para prejudicar a atuação de Fielding, pelo contrário, sua bravata charmosa e sua entrega cômica estão presentes em quase todas as cenas. Mesmo que este show seja apenas um veículo para ele brincar, é bem merecido.

As Aventuras Inventadas de Dick Turpin será – e já está sendo –, sem dúvida, comparado a outra comédia histórica boba e anacrônica com um coração de ouro: “Nossa Bandeira é a Morte”. Infelizmente, para quem está de luto pelo cancelamento da série da Prime Video, este não é o herdeiro da coroa dos “criminosos gays assassinos mais doces dos sete mares”. Dick Turpin, na melhor das hipóteses, lembra mais os episódios fracos de “preenchimento” da segunda temporada. No entanto, considerando a tendência da TV de prestígio de evitar a comédia em favor do drama sério, ainda é uma lufada de ar fresco.

Eu queria rir mais com Dick Turpin

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Após o sucesso de programas semelhantes, como “What We Do in the Shadows”, os tropos, arquétipos de personagens e batidas da comédia são excessivamente previsíveis. A maioria das piadas de série são repetidas muitas vezes e, para um programa com o nome “Dick” – pênis, em inglês – no título, poderia ter sido um pouco mais criativo com suas insinuações.

Entre os destaques inesperados do show estão seus figurinos, já que o estilo característico de Turpin parece se espalhar entre os outros bandoleiro de estrada como uma praga, eles são deslumbrantes e cheia de babados. A trilha sonora também encanta com temas orquestrados épicos, mas na medida certa para não se levar tão à sério, sintetizada na qual o show realmente poderia ter se inclinado mais. Além da atuação de Fielding, Ellie White (“Stath Lets Flats”) rouba a cena como Nell, uma bandoleira durona, mas socialmente desajeitada. Ela tem uma virada de personagem muito engraçada no final da temporada, que condiz muito as ações e atitude dela.

Crítica | Dick Turpin quer roubar seu coração, mas não consegue realizar o assalto

As aventuras completamente inventadas de Dick Turpin parecem carecer de certa seriedade ou profundidade. Talvez seja pedir demais esperar profundidade de uma comédia, mas é um crime querer mais? Existem alguns momentos agradáveis, mas não há história de fundo suficiente para fazê-la se tornar uma grande e memorável série. Mas se você for do tipo que está procurando uma série de comédia sem lá muita profundidade – tipo, você pode assisti-la sem realmente precisar investir tanta energia mental no programa – esta é a opção perfeita para você, com uma curta temporada de seis episódios e duração de aproximadamente 30 minutos.

Dito isso, em um cenário de streamings dominado por séries limitadas muito sérias, parece um bom sinal de que uma comédia simples e maluca ainda pode funcionar como um limpador de paladar.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.