Crítica | X-Men '97 é o melhor do MCU desde Vingadores: Ultimato
(Foto: Divulgação/Disney)

Crítica | X-Men ’97 é o melhor do MCU desde Vingadores: Ultimato

Ainda em seus primeiros episódios, você provavelmente já ouviu falar que X-Men ’97 era ótimo. Essa animação é, facilmente, um dos maiores, mais barulhentos, mais coloridos, mais ambiciosos e comoventes projetos que a Marvel já fez em qualquer mídia fora dos quadrinhos. Originalmente anunciado como um renascimento nostálgico da série animada de X-Men dos anos 90, X-Men ’97 é completamente o oposto, tornando-se uma das adaptações de quadrinhos mais agressivamente progressivas já feitas.

Com uma melhor animação, enredo, drama, arcos de personagens e política, X-Men ’97 melhora seu antecessor em todos esses aspectos. Assistindo semanalmente, cada episódio parecia um evento independente e, quando reunidos, esses 10 episódios formam um arco monumental com o qual nenhuma adaptação dos X-Men pode se comparar.

Novelesco

X-Men ’97 é um pacote completo, como nos melhores momentos do grupo nos quadrinhos. Isso quer dizer que a animação abraça o tom super dramático, dividido por núcleos e repleto de reviravoltas, numa estrutura bastante novelesca. Tudo isso vem envolto por uma camada de temas comuns dos quadrinhos, como a ficção científica maluca, extravagância e breguice dos uniformes, complexidade moral e personagens profundamente falhos.

A animação é cheia de ação, mas também é muito trágica, heroica, cômica e romântica. Essa junção de temas e emoções só é possível por conta de um texto crível, que dá peso na direção da trama. Há fim e início de relações e mortes permanentes. O melhor exemplo disso são os acontecimentos chocantes do 5º episódio da série.

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Relações e momentos trágicos são realmente impactantes nesta animação (Foto: Reprodução/Disney+)

Outro fator que merece destaque é o uso correto da nostalgia. X-Men ’97 é uma continuação direta da animação dos anos 90, segue o estilo de animação – embora, melhor animada – por meio de um filtro VHS e usa até mesmo a mesma música de abertura. A nostalgia é o impulso que leva o público à série, mas o que vem a seguir é muito mais do que isso.

O roteiro de Beau DeMayo (“The Witcher: Lenda do Lobo”) cresceu absurdamente em comparação com o desenho que passava na TV Globo. Agora, as histórias chegam ao público acima dos 30 anos, não mais às crianças, que assistiam antes de ir à escola a um desenho cheio de lutas e disparo de raios.

Começou a lacração

É claro que os X-Men vivem metáforas para questões de ódio às minorias, como antissemitismo, homofobia e racismo. Mas, desta vez, os diálogos, as reações e o desenvolvimento de cada personagem são tão coerentes e precisos que deixam tudo ainda mais profundo. A permanência dos ciclos e a dificuldade de intervir no que parece imutável é um tema constante entorno de toda a 1ª temporada da série. Magneto, vilão clássico do X-Men, se alterna entre aliado e inimigo. Da vítima do nazismo àquele que se considera membro de uma raça superior, este anti-herói representa muito do universo dos mutantes e suas relações – e contradições – com o mundo atual.

Crítica | X-Men '97 é o melhor do MCU desde Vingadores: Ultimato
Série aborda preconceito da população contra os mutantes longe da camada superficial (Foto: Reprodução/Disney+)

A série, por vezes não é nada sutil em suas mensagens, por isso é possível traçar paralelos com os cidadãos fanáticos por líderes políticos, a polarização crescente, o exército de seres não pensantes que fake news criam e guiam. Mesmo se passando em 1997, o texto é bastante atual, prova disso é que até a inteligência artificial tem papel crucial no agravamento dos conflitos pelos quais passa a equipe do professor Charles Xavier.

Personagens amados como Ciclope, Vampira e até mesmo Gambit são levados ao limite, radicalizados em reviravoltas ousadas que lembram o grande drama das séries de quadrinhos de longa duração. A animação consolida arcos de vários anos, até mesmo de outras séries – como uma solução a um mistério da série animada do Homem-Aranha dos anos 90 -, às vezes até melhorando o material original, permanecendo fiel ao espírito, à história e aos personagens. O material dos quadrinhos é adaptado com bom gosto, com crossovers complicados habilmente simplificados em eventos episódicos rápidos e divertidos.

Assista agora!

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Magneto é um dos grandes destaques da animação (Foto: Reprodução/Disney+)

Disfarçado de desenho animado infantil, X-Men ’97 apresenta um olhar maduro sobre a bagunça da humanidade, nossa ruína e nossa redenção, e ousa perguntar: a tolerância está em extinção? Como podemos continuar a existir se permitirmos que os nossos inimigos sobrevivam?

Os 10 episódios que compõem esta temporada inicial propõem uma nova linguagem nas adaptações do universo X-Men. Em resumo, menos ação e mais conteúdo. Tem até momentos em que a série flerta com o terror e, o tempo todo, as relações pessoais são colocadas à prova.

Há muito a dizer sobre o que torna este programa excelente, mas nesta análise quero me concentrar em três elementos específicos: como X-Men ’97 se posiciona ao lado de “Vingadores: Guerra Infinita” como um dos eventos mais fortes do Universo Cinematográfico Marvel (MCU); a redenção da fraca série animada dos X-Men nos anos 90; e como essa série usa a nostalgia de forma saudável.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.