Quando fui indicado para ser responsável por essa análise, confesso que me animei bastante, pois sou muito fã da franquia Outlast. Me assustei, pulei da cadeira com Outlast 1 (2013), em seu ambiente assustador e claustrofóbico. Viciei! O jogo se encontra no meu top 5 da vida em jogos de terror. Ressalto que o mesmo possui uma DLC maravilhosa, tão boa quanto o jogo base, Outlast: The Whistleblower (2014). Posteriormente, comprei day-one, a sua continuação: Outlast 2 (2017). Este possui um ambiente mais aberto, mas tão assustador quanto o primeiro, onde o protagonista se depara com uma seita demoníaca.

Neste contexto, você já deve imaginar o meu ânimo com The Outlast Trials. Lançado, definitivamente, para consoles (PS4, PS5, Xbox One e Xbox Series S/X) e para PC, no dia 05 de março de 2024. O novo título da Red Barrels aposta em uma experiência PvE, tentando trazer a mesma atmosfera de seus antecessores, mas agora o jogador pode sofrer de maneira cooperativa. A pergunta é: o terror acabou e deu lugar à “zueira” entre amigos e se tornou mais um jogo coop em um mercado já saturado? Leia a minha experiência e tire suas conclusões.

Essa análise foi feita totalmente baseada em sua versão para Playstation 5, com código cedido, gentilmente, pela Red Barrels. Aviso que esse jogo possui fortes temas como violência, suícidio, esquartejamento, etc. Jogue por sua conta e risco.

O jogo é repleto de vários temas sensíveis, como a religião, por exemplo – Captura por Sherman Castelo

Enredo e Ambientação

The Outlast Trials é um jogo de terror PvE cooperativo, ramificado da franquia Outlast. O mais novo título da Red Barrels se passa, cronologicamente, antes do primeiro game, mais precisamente no ano de 1959, durante a Guerra Fria. O personagem que você controla não possui nome, nem moradia, nem família. Várias pessoas se encontram em situaçãos de desespero extremo com o avanço da guerra. Diante disto, Murkoff e sua corporação resolvem “ajudar” essas pessoas. É óbvio que tudo não passa de uma ilusão e os sobreviventes são submetidos à experimentos mortais.

É nesse contexto que o jogo começa. No ínicio você sente toda a vibe da franquia. A solidão, o medo de abrir uma porta e dar de cara com um maniáco, portas rangem, luzes piscam, algo faz barulho no ambiente, enfim, o terror está de volta. Certo? Nesse momento, sim. Mas, infelizmente, essa trajetória é uma espécie de tutorial. Até o jogador chegar na Sleep Room, um local que funciona como o a torre de Destiny, ou a White House de The Division 2. É o seu Looby. Pronto, preciso confessar que ao chegar neste local, o jogo me “desconectou” de tudo o que significa Outlast pra mim.

Ambientes com muito Gore, característica da franquia – Captura por Sherman Castelo

Sleep Room, o lobby de The Outlast Trials

A sala do sono, ou Sleep Room, funciona como uma área de descanso, fornecendo um local para os sobreviventes dormirem e se recuperarem de seus testes. Esta sala também é usada para observar cada participante e propocionar um fácil acesso para administrar tratamento aos jogadores. Aqui é sua base. O local possui camas para o merecido descanso, o jogador também pode personalizar seu quarto, com quadros, cores da parede, etc.

Personalização estilo Halloween de uma cela na Sleep Room. Podemos até morrer, mas antes a gente deixa o nosso quarto “bonitinho” – Captura por Sherman Castelo

Após a realização das missões, você recebe pontos de experiência e moedas para trocar por melhorias. É aqui que você forma seu grupo de amigos para sobreviver aos testes, ou jogar partidas de xadrez e até mesmo, disputar queda de braço, mas caso não queira jogar em squad, o jogador pode se aventurar em modo Solo. Você decide. Saiba que o jogo possui o sistema de Matchmaking, mas não fique tão feliz. O título é um limbo, praticamente não se acham grupos para jogar, por várias e várias vezes passei muitos minutos esperando achar algum outro jogador, mas nada! E pra piorar, nínguem da minha lista de amigos joga o título. E detalhe: o jogo tem Crossplay.

Nada como jogar Xadrez antes de ser perseguido e morto por maniácos, não é mesmo? – Captura por Sherman Castelo

Nessa perspectiva, eu me vi jogando de maneira solitária, um jogo feito, essencialmente, para se jogar em coop. Já não bastava a frustração de chegar no looby e ver o que a franquia se tornou, eu não encontrava ninguém pra jogar comigo, mas eu resolvi encarar os testes mesmo assim! Afinal, se a obra me dar a opção de jogar solo, então deve ser como os seus antecessores, não é?! E a resposta é NÃO. Pra minha decepção, jogar Outlast Trials sozinho é totalmente frustrante e chato. O jogador se encontra em locais fechados, sem mapa, com pouca informação do que fazer, e o pior, com uma dupla e/ou trio de maníacos sedentos para tirar um pedaço de você, te perseguindo incessantemente, enquanto você tenta realizar os objetivos para escapar dali.

Tela de personalização do seu personagem, afinal, se for pra morrer, que seja pelo menos bem vestido – Captura por Sherman Castelo

Ainda na Sleep Room, o jogador irá interagir com alguns NPC’s essenciais para a sua progressão. Alguns deles fornecem equipamentos que irão facilitar muito a sua vida nos testes. Como por exemplo, Dorris, NPC responsável de lhe vender os amplificadores, algo que ajuda bastante sua vida no título; Cornelius Noakes, este fica responsável pelo mercado de equipamentos que atordoam os mániacos (Use e abuse disso); Emily Barlow, uma espécie de enfermeira que faz upgrades em suas habilidades físicas e mentais.

E como o jogo funciona?

Bom, de cara, eu já digo que ele não possui uma campanha como nos outros jogos, mas o jogador pode achar documentos espalhados pelos cenários dos testes que fazem menção ao Mount Massive Asylum (cenário de Outlast 1 e sua DCL, Outlast: The Whistleblower). Trials é divido em Programas: Terapia Principal (seriam os testes mais básicos), Terapia Avançada (testes com uma dificuldade mais elevada), Terapia Extrema (testes com uma dificuldade muito alta) e Terapia Semanal (como o próprio nome sugere, são desafios semanais)

A mecânica de gameplay é bem semelhante aos outros títulos da série, o jogador não pode derrotar os inimigos fazendo uso de armas, mas existe a possibilidade do atordoamento, jogando tijolos e/ou garrafas neles, algo que lhe dá um respiro para correr e se esconder em algum dos vários esconderijos do cenário, como armários, embaixo de camas, dentro de freezers, etc. Aqui, sua câmera da lugar à um óculos de visão noturna e, nem se anime, você terá que procurar baterias através do mapas, afim de recarregá-lo, assim como nos outros jogos. Saber ser furtivo é essencial para a sua sobrevivência e, consequentemente, a do seu grupo, portanto, elabore estratégias, upe seus equipamentos, esteja preparado para os desafios, um squad com Headset e boa comunicação é essencial para o sucesso.

Os programas em The Outlast Trials – Captura por Sherman Castelo

Objetivos nos Trials e principais “vilões”

Uma das coisas interessantes dos testes é que a localização dos seus objetivos são gerados de forma procedural, ou seja, uma chave não vai está localizada no mesmo lugar sempre. O jogador passará por alguns tipos de testes (não citarei todos para não dar SPOILERS)

  • Matar o Delator (Kill the Snitch): Este é o primeiro teste que a maioria dos jogadores completa. Ele leva você a uma prisão desolada para eliminar um prisioneiro que está divulgando informações sobre os horrores nas instalações da Murkoff. O objetivo final em The Outlast Trials é completar a terapia e renascer.
  • Completar as Celas e Coletar Chaves: Em cada mapa, você precisará alcançar as celas, coletar chaves para abrir portões e eletrocutar prisioneiros. Esses são objetivos recorrentes que testam sua habilidade de navegar pelos ambientes e superar obstáculos.

Sobre os inimigos, eles são, terrivelmente, perturbados e perturbadores, não lhe dão sossego em momento algum, possuem uma boa inteligência artificial, mas nada como o Xenomorfo em Alien Isolation. Não espere por uma grande variedade deles, mas os poucos que o jogo possui, já são suficientes para tirar sua paz. Abaixo citarei alguns:

  • Mother Gooseberry: ela é um dos principais antagonistas. Ela aparece na delegacia, mansão e parque de diversões. Fique atento ao seu comportamento e ouça sua história através de suas ações.
  • Leland Coyle: Ele pode causar grande dano e incapacitar os sobreviventes rapidamente.
  • O Pusher: Encontrado no parque de diversões e orfanato, o Pusher é um inimigo que empurra os jogadores. Use e abuse dos esconderijos e das distrações do cenário.
  • O Climber: Este inimigo aparece em todos os mapas. Ele se move rapidamente e adora verificar esconderijos. Manter-se nas sombras é essência para fugir dele.
  • O Grunt: Encontrado na delegacia e no tribunal, o Grunt tem passos pesados. Fique atento aos seus movimentos e saiba onde estão os esconderijos próximos para se esconder rapidamente.
Gooseberry, uma das principais antagonista do game. Ela vai te fazer muita raiva, acredite! Captura por Sherman Castelo

Sobre gráficos, o jogo é muito competente nesse quesito, a iluminação é ótima também. Na questão do desempenho, mantém os 60 FPS, não sofri com quedas e nem com bugs, bom trabalho da Red Barrels aqui. A trilha sonora brilha intensamente no título. Jogar com fone de ouvido no máximo é a dica do dia pra você. Os locais dos testes, embora não sejam tão diversificados, são ricos em detalhes, corpos mutilados e pelados em todo lugar, bonecos que assustam, cacos de vidros no chão (cuidado que isto alerta os vilões), etc. Se não fosse alguém tentando te matar ali, você poderia até parar para admirar os detalhes.

A atenção ao detalhes impressiona, tudo para manter um ambiente assustador e claustrofóbico – Captura por Sherman Castelo

Vale a Pena?

The Outlast Trials pode decepcionar muitos jogadores que esperavam um título com uma história densa e sombria, como nos outros jogos, com uma campanha single player. Eu me encaixo nessa perspectiva. Nas missões cooperativas, o terror se tornou “terror”, era gente pulando, correndo e “trollando” os antagonistas. O clima de tensão e suspense logo dava lugar à risadas e brincadeiras pelo cenário. Claro que eu encontrei jogadores que jogavam a obra como deve ser feito, mas, foram poucos.

O novo título da Red Barrels faz muito bem o que ele foi feito pra fazer, que é um jogo de terror em coop, com upgrades de habilidades e equipamentos, onde todos precisam se ajudar pra chegar à um objetivo final e renascer, mas, pra mim, de Outlast ele só tem o título. Se ele se chamasse “Jogos Mortais: The game”, ninguém iria nem notar a diferença. E se não houver várias atualizações e adições de novos conteúdos por parta da produtora, o jogo logo irá cair no esquecimento, pois com o tempo se torna bastante repetitivo.

Ele vai divertir você no começo, vai ser legal correr dos maníacos com seus amigos, tomar a decisão de salvar o companheiro ou deixar ele morrer para “zoar” ele depois, mas isso logo passa e o jogo se torna maçante e enjoativo. E como ele é feito para se jogar em grupo, a experiência solo é totalmente frustrante e cansativa, onde o desafio é superado pelo desânimo e cansaço de sempre estar sendo perseguido sem pausas. Por fim, pode ser que The Outlast Trials seja um prelúdio do que a empresa pretende fazer com a franquia nos títulos futuros, mas, é algo que eu torço para que não aconteça e que a série volte aos seus bons tempos! Lembrando que essa é a minha experiência com o jogo, jogue, sinta a obra e tire suas próprias conclusões e, tá tudo bem se você discordar. Boa jogatina.

Outras reviews:

Gráficos e Desempenho
9
Diversão
4
Jogabilidade
8
Trilha Sonora
9
7.5

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