No recente lançamento de Gladiador 2, uma cena em que o personagem Lucius, interpretado por Paul Mescal, luta contra um tubarão no Coliseu gerou grande repercussão. A imagem de um tubarão em uma arena tão histórica provocou uma série de questionamentos sobre a veracidade desse evento. Mas, ao contrário do que alguns pensam, a ideia de “monstros aquáticos” nas batalhas romanas não é totalmente improvável. O que realmente acontecia nos tempos antigos, no entanto, era muito diferente.
Se você ainda não assistiu Gladiador 2, saiba que este artigo contém spoilers sobre o filme, portanto, leia por sua conta em risco!
No filme, há uma cena em que Lucius e outros escravos enfrentam uma batalha naval, enquanto um de seus companheiros é atingido por uma flecha e logo é puxado para a água por uma criatura com dentes afiados. Isso gerou a dúvida: os romanos realmente colocavam tubarões no Coliseu? Ridley Scott, o diretor do filme, defende essa ideia de maneira ousada. “Se você pode construir o Coliseu, pode enchê-lo de água”, afirmou em entrevista, minimizando as dúvidas sobre a possibilidade de tal cenário.
Embora a cena do tubarão seja claramente fictícia, ela se baseia em um tipo de espetáculo real que os romanos realizavam: as naumachias, batalhas navais encenadas em grandes anfiteatros, incluindo, possivelmente, o próprio Coliseu. Estes eventos eram uma forma de entretenimento para o povo romano e envolviam combates entre navios de guerra, recriando batalhas do mar.
As naumachias eram um tipo de entretenimento muito caro, realizado apenas em ocasiões especiais, como a comemoração de grandes vitórias militares. Um exemplo famoso de batalha naval ocorre em 46 a.C., quando Júlio César celebrou seu retorno do Egito e sua vitória sobre Pompeu com uma grande naumachia no rio Tibre, envolvendo milhares de combatentes e remadores. Isso mostrou como esses eventos eram grandiosos e atraíam multidões ansiosas por diversão.
Essas batalhas navais eram muito mais do que simples recriações. Eram espetáculos imponentes que exigiam grandes investimentos e preparações. O próprio imperador Augusto, sucessor de César, se orgulhou de uma naumachia ainda maior, que contou com 3.000 combatentes e 30 navios, demonstrando a popularidade e a grandiosidade desses eventos. Portanto, a ideia de inundar uma arena como o Coliseu para encenar batalhas navais não está tão distante da realidade histórica.
Porém, apesar das naumachias serem bem documentadas, não há registros históricos que confirmem a presença de tubarões nessas batalhas. No entanto, o filme Gladiador 2 toma a liberdade criativa de inserir essa figura mítica no contexto da batalha, o que gera uma curiosidade sobre o que realmente acontecia no Coliseu romano. A verdade é que, embora os tubarões não fossem usados, criaturas exóticas como crocodilos estavam frequentemente presentes nos jogos romanos.
Os crocodilos, junto com outros animais exóticos, como hipopótamos e leões, faziam parte das venationes, combates realizados em arenas romanas onde homens, frequentemente prisioneiros de guerra ou escravos, lutavam contra animais selvagens. Essas apresentações tinham um caráter brutal e sangrento, refletindo o fascínio dos romanos pelo exotismo e pela crueldade.
O Egito, com sua rica mitologia e fauna, teve uma enorme influência sobre a Roma imperial, especialmente após a conquista do Egito por Júlio César e, mais tarde, por Augusto. Os romanos ficaram fascinados pelas criaturas do Nilo, como crocodilos e hipopótamos, que eram trazidos para a Roma imperial e exibidos em espetáculos sangrentos. No Coliseu, era comum que gladiadores enfrentassem crocodilos até a morte, em lutas sangrentas que cativavam o público.
Embora os tubarões não fizessem parte do cardápio de espetáculos romanos, os crocodilos eram, de fato, uma atração popular. Em 2 a.C., por exemplo, durante o reinado de Augusto, um número impressionante de crocodilos foi capturado e levado para um grande espetáculo em Roma, realizado no Circus Flaminius, um espaço adaptado para caçadas aquáticas.
Esses shows de caça aos crocodilos, realizados em grandes piscinas ou lagoas artificiais, eram bem diferentes das batalhas navais, mas compartilham o mesmo espírito de entretenimento sangrento. Embora não haja registros de crocodilos sendo usados especificamente em naumachias, os espetáculos aquáticos envolvendo esses animais eram comuns, com os gladiadores enfrentando os crocodilos em pequenas embarcações ou até mesmo em combates diretos na água.
É importante ressaltar que o Coliseu, embora tenha sido uma das maiores construções da Roma antiga, nem sempre foi o local exclusivo para todos os tipos de espetáculos. Outros locais, como o Circus Flaminius, também eram usados para encenar esses tipos de eventos, adaptando espaços para criar experiências imersivas para o público. O Coliseu, no entanto, era sem dúvida o palco mais icônico de Roma.
A ideia de misturar o combate naval com crocodilos para criar um espetáculo de “batalha aquática” certamente faz sentido no contexto dos grandes espetáculos romanos. Se os romanos podiam trazer animais exóticos de terras distantes para lutar contra homens, por que não imaginar a possibilidade de juntar criaturas marinhas e terrestres em um único show de horrores? É essa criatividade que torna o cinema de Hollywood tão fascinante, especialmente quando um diretor como Ridley Scott decide juntar essas ideias para criar cenas memoráveis.
Se você contar a um roteirista de Hollywood que os romanos realizavam espetáculos com crocodilos e batalhas navais, é fácil imaginar que alguém proponha a ideia de juntar ambos os elementos em um único evento para aumentar o impacto visual e a emoção da cena. E talvez, no caso de Scott, a resposta seja: “Por que não adicionar tubarões?” Afinal, em um mundo onde a imaginação e a realidade se encontram, os tubarões no Coliseu podem parecer mais plausíveis do que parecem à primeira vista.
Portanto, enquanto os tubarões realmente nunca habitaram o Coliseu romano, a mistura de fantasia e história, como vimos em Gladiador 2, é uma forma de celebrar a grandiosidade e o espetáculo da Roma antiga, mesmo que de maneira exagerada. E, quem sabe, nas mãos de um cineasta criativo, até mesmo o impossível pode ganhar vida.
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