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Crítica | Gladiador 2: um espetáculo visual vazio, divertido e sem alma

Vamos falar a verdade: Gladiador 2 é uma sequência que falha em quase todos os aspectos. E se você acha que isso vai ser uma crítica moderada, pode esquecer — esse filme é um enorme passo atrás em comparação ao original, que está longe de ser um obra-prima. O que deveria ser uma continuação épica acaba se tornando um espetáculo vazio, repleto de personagens sem personalidade e uma trama que nunca consegue alcançar a grandiosidade que sua cinematografia pretende. Mas, se tem algo nesse filme que merece ser exaltado, é a performance de Denzel Washington, que, sem dúvida, é a única coisa que realmente vale a pena no meio de tanta mediocridade.

Primeiro, os personagens. Se o primeiro Gladiador era movido pelas figuras arquetípicas, mas memoráveis, como o próprio Maximus (Russell Crowe) e o inesquecivelmente desprezível Cômodo (interpretado por um jovem Joaquin Phoenix), essa sequência simplesmente não consegue entregar nada remotamente parecido.

O protagonistas Lucius (Paul Mescal), se esforça, mas perto de Crowe, na qual o próprio personagem ecoa, parece pequeno e sem sal. E os vilões? Vamos apenas dizer que eles são mais interessantes em teoria do que na prática. Pedro Pascal até parece estar fazendo o que pode, mas tanto Fred Hechinger, quanto Joseph Quinn estão patéticos tentando emular o que Phoenix fez no antecessor. A trama, que em tese poderia trazer alguma complexidade ou profundidade emocional, acaba se arrastando sem nunca prender o espectador de verdade.

Crítica | Gladiador 2: um espetáculo visual vazio, até divertido, mas sem alma
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No entanto, Denzel Washington, como Macrinus, o astuto mentor de Lucius, se destaca em meio a esse mar mediocridade. O ator entrega uma performance cheia de nuances, com malícia e um nível de diversão evidente do ator. Macrinus é, sem dúvida, o personagem mais interessante da história, e Denzel imprime uma presença inconfundível. Ele é o estrategista manipulador, mas ao mesmo tempo, há uma humanidade escondida em suas ações, uma camada de vulnerabilidade que traz algo novo ao filme. Enquanto o resto do elenco parece perdido em uma trama sem rumo, Denzel constrói uma interpretação que vai além do que o roteiro propõe, dando ao seu personagem uma profundidade maior que o próprio texto se propõe.

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Bom, se além de Macrinus, eu não me importei com ninguém nesse filme. E o enredo, então? Ficava cada vez mais chato conforme o tempo passava. A única coisa que realmente me manteve acordado foram as cenas de luta. Essas sim são boas, bem coreografadas, com boa direção de cena e fáceis de acompanhar – um alívio no meio de um filme que parecia estar se arrastando.

Gladiador 2 é um filme que vai e volta. Em termos de ação, ao contrário do primeiro, as cenas são mais fáceis de entender, são visuais e agradáveis de assistir. Mas, ao mesmo tempo, como a intensidade das cenas não varia, o filme não tem aquele impacto grandioso e épico que o primeiro tinha. Ele acaba se tornando meio sem graça e sem energia.

Do ponto de vista do roteiro, até achei que essa sequência tem uma trama mais interessante que a do original, com dilemas morais e intrigas políticas minimamente interessantes, mas o texto de David Scarpa e Peter Craig peca pela falta total de emoção. O filme é gelado, sem coração, sem aquele peso emocional que fez o primeiro Gladiador tão marcante. E, para piorar, o que deveria ser o grande clímax da jornada do personagem principal acontece quase na metade do filme. Então, durante mais de um terço do longa, ficamos arrastando com as intrigas políticas, que até são legais, mas não têm a menor carga emocional.

Ouvindo a grandiosidade, mas não sentindo-a

Apesar de uns problemas narrativos e estruturais, não dá pra negar que Gladiador 2 tem um trabalho técnico impressionante. A trilha sonora assinada por Harry Gregson-Williams, tenta seguir o legado épico deixado por Hans Zimmer no primeiro filme. Porém, apesar de algumas boas faixas, como aquelas que acompanham as batalhas, a música acaba não sendo tão memorável ou emocionalmente envolvente quanto no original. No primeiro filme, as composições de Zimmer realmente se tornaram parte da alma da história, ajudando a criar aquela atmosfera de grandeza e tragédia. Já em Gladiador 2, a música, embora seja competente, nunca realmente atinge o mesmo nível de imersão.

Mas o que realmente impressiona são os efeitos sonoros. As cenas de combate são acompanhadas de um trabalho de som de altíssimo nível, com os sons das lâminas se chocando, os gritos da multidão e o estalo do couro dos gladiadores, tudo isso de forma precisa e intensa. Mesmo nas cenas de batalha mais caóticas, o som consegue manter a clareza e a imersão, permitindo ao espectador sentir-se parte da ação. Em uma produção desse porte, onde a ação é um dos principais atrativos, o som é fundamental para garantir que o espetáculo visual se torne ainda mais visceral.

Um banquete para os olhos, mas vazio por dentro

Crítica | Gladiador 2: um espetáculo visual vazio, até divertido, mas sem alma
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Outro aspecto que Gladiador 2 não decepciona em termos visuais. A direção de arte, os figurinos e a fotografia fazem o filme parecer um épico de alto orçamento. As lutas são grandiosas, e a recriação do Coliseu e das arenas romanas é impressionante. As cenas de combate, com uma coreografia afiada e com uma cinematografia bem trabalhada, são o grande destaque do filme. Diferente do seu antecessor, a forma como a câmera se move durante as batalhas, capturando cada golpe e cada expressão de dor, traz uma sensação de intimidade, tornando tudo mais tenso e envolvente.

Além disso, o filme faz uso inteligente de CGI, especialmente para retratar as feras na arena, o que adiciona uma camada de perigo e imprevisibilidade às lutas. A presença de animais na arena, como macacos e tubarões, é um espetáculo por si, criando momentos de tensão genuína, apesar do roteiro por vezes esquecer de dar o devido peso emocional a essas cenas.

Crítica | Gladiador 2: um espetáculo visual vazio, até divertido, mas sem alma
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Mas, como mencionei antes, todo esse espetáculo visual acaba sendo ofuscado pela falta de profundidade na história. A beleza das cenas de ação e dos cenários não são suficientes para salvar o filme de sua trama rasa e dos personagens sem vida.

Eu até poderia ser mais maldoso e dizer que Gladiador 2 é só mais um blockbuster genérico, perdido em um mar de sequências e repetições. Mas, enquanto espectador, consigo ver muita gente se divertindo — e até os invejo — com as cenas grandiosas de ação

Ao final, Ridley Scott com seu Gladiador 2, acaba sendo um grande prato de comida, visualmente bonito, mas sem sabor. Um banquete que, por mais impressionante que seja, deixa a sensação de que falta algo substancial por trás de toda aquela grandiosidade.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.