Na última sexta-feira (21) saiu no MAX o último capítulo de Beleza Fatal, primeira novela original da plataforma de streaming e um fenômeno de repercussão nos últimos meses. O que se viu foram várias pessoas se reunindo em festas para assistir ao final da trama escrita por Raphael Montes (Bom Dia, Verônica), uma prática que estamos acostumados a ver em finais de novelas da TV Globo, mas que já não acontecia há alguns anos.
E não é difícil de entender como Beleza Fatal conseguiu todo esse sucesso. A produção nada mais é do que um grande novelão com tudo o que o gênero, tão consagrado na cultura brasileira, tem direito. Uma história de vingança envolvendo disputa de poder entre classes sociais, segredos familiares, traições, viradas dramáticas, romances e personagens que cativaram o publico desde o primeiro capítulo.
No entanto, apesar seguir de maneira bem correta a cartilha de grandes autores como Gilberto Braga, Silvio de Abreu e João Emanuel Carneiro, Raphael Montes conseguiu deixar impressa a sua identidade na trama. Propositalmente exagerada e brincando com o absurdo, ao mesmo tempo em que nunca soa fora do tom, o drama da vingança de Sofia que vai até as últimas consequências, ao ponto de transformar a mocinha sofredora em vilã, ao mesmo tempo que parece muito familiar, também carrega um frescor um tanto quanto viciante.
A quantidade reduzida de capítulos (40) pode e tem sido usada como umas das justificativas para o acerto dessa trama dinâmica e sempre interessante, mas arrisco dizer que essa mesma sensação poderia ser alcançada em uma história com seus tradicionais 170 capítulos. Não é difícil de enxergar os pontos que poderiam ser expandidos sem necessariamente criar uma barriga (momento em que a história da novela fica rodando em círculos e avança pouco) e mantendo o seu ritmo dinâmico.
Não tem como ignorar que Camila Pitanga foi o grande destaque. Sua Lola domina a novela do início ao fim, com uma vilã que é uma caricatura do mundo das influenciadora e que é extremamente errada na mesma medida em que é extremamente carismática. Nunca deixa de ser impressionante a facilidade com que a atriz vai do drama ao cômico em uma mesma cena e a capacidade com que ela fez frases absurdas caírem na boca do povo. Sem falar nos apelidos hilários para o restante do elenco como “Capirota”, “Zuca”, “Matuzalem”, “Pom Pom”, “Velha Gurda do Bisturi” e muitos outros.

Camila Queiroz não fica atrás, com uma protagonista complexa, que começa a novela tendo a torcida do público para que seu plano de vingança siga em frente, mas que vai se perdendo em um mar de mentiras e manipulação e acaba se vendo sozinha e sendo um espelho de quem tanto odiava. Este é, sem dúvida, seu melhor papel até aqui.
Vale citar também o excelente trabalho de Giovanna Antonelle e Augusto Madeira como o casal de trambiqueiros que comanda a família Paixão. A dupla ganha a simpatia desde a primeira cena que se trata de um golpe para roubar carne de um mercado, para família fazer um churrasco no fim de semana. Ao mesmo tempo em que é divertido acompanhar a farsa da vidente Elvirinha, que consegue manipular a todos na família Argento, é também muito genuíno o carinho e a cumplicidade que há entre o casal e o filho Alec (Breno Ferreira); e a vontade de fazer justiça pelo assassinato da irmã, Rebeca.
Outro grande acerto de Beleza Fatal é a maneira natural, simples e livre como foram retratadas as narrativas LGBTQIA+ da novela. Desde a história do Médico Cirurgião Átila (Herson Capri), patriarca da Família Argento e dono da renomada clínica que leva o nome da família; que vive um romance secreto com o também médico Marcelo (Drayson Menezzes) e se vê refém das aparências e da sua homofobia internalizada, chegando até a ser transfóbico com Andréa (Kiara Felippe), mulher trans dona de uma academia de dança que vive um romance de idas e vindas com Tomás (Murilo Rosa), genro de Átila e também médico na clínica Argento.

Em tempos em que vemos noticias sobre censuras a cenas de beijos e boicotes em tramas LGBTs em novelas, é um alívio ver que em Beleza Fatal todos esses personagens e suas tramas tem o direito de se desenvolverem com o mesmo destaque e cuidado que qualquer outro personagem cis-hétero teria, rendendo inclusive, algumas das cenas mais memoráveis da produção.
Beleza Fatal reúne o que há de mais emblemático nas novelas brasileira, com a dose certa de drama mexicano para dar vida a uma história cativante, divertida, com provocações pertinentes sobre a indústria da beleza e a exploração da busca desenfreada pelo corpo perfeito e personagens que entraram rapidamente para o imaginário da cultura pop brasileira. Uma excelente estreia de Raphael Montes nas novelas e da MAX com o produto audiovisual mais amado do país.
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