Rivais - via Warner Bros.
Rivais - via Warner Bros.

Rivais não sexualiza exageradamente a personagem de Zendaya

Rivais estreia oficialmente nos cinemas na próxima quinta-feira (25), e por já termos a oportunidade de assistir, existem realidades que precisam ser comentadas. É possível olhar o material de divulgação da nova produção da Warner Bros. e tirar conclusões imediatas. Dentre essas: é um filme sobre tênis, é um filme com a Zendaya e é um filme de trisal. Isso porque os trailer e imagens acabam sugerindo essas informações superficiais e ao aprofundar, há grandes surpresas.

Com a direção de Luca Guadagnino (“Até os Ossos”), a história mostra o intrigante envolvimento entre a antiga tenista e atual treinadora Tashi (Zendaya). Ela lida com diversos conflitos ao conflitar seu atual esposo Art (Mike Faist) em um campeonato com o ex-melhor amigo dele Patrick (Josh O’Connor), que também é ex-namorado dela. Nessa grande confusão há muitas coisas em jogo, para além do esporte em si que é o verdadeiro protagonista da trama.

Ao abordar a história, é nítido o cuidado com os detalhes, num trabalho conjunto entre a equipe de direção de arte, ao dar veracidade nesse ambiente do esporte, bem como da direção de fotografia do tailandês Sayombhu Mukdeeprom (“Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”), que abusa dos planos-detalhe na raquete, a bola sendo preparada para realizar alguma jogada, os preparativos de cada campeonato, o suor dos jogadores e os olhos dos espectadores que acompanham cada lance. Toda essa atmosfera indica algo em comum: a importância de passar o sentimento de intensidade.

Essa intenção reflete diretamente na relação entre os três protagonistas. Os personagens viveram uma juventude intensa e marcada por uma relação muito expressiva com o esporte e entre si. Tashi é o ícone desejado pelos amigos Patrick e Art, eles a veneram porque ela também é um ídolo no tênis. Existe uma grande tensão sexual entre os três, centralizado na figura dela que representa tudo o que elas mais querem: uma mulher atraente e excelente jogadora.

Rivais dá aula de como não tornar a figura feminina um ícone hipersexual

Para representar Tashi, Zendaya mostra uma jovem poderosa e também uma adulta ambiciosa e sensual. Para tal atmosfera, não há cenas de nudez, ou roupas decotadas a todo momento, é uma representação clara e natural.

Tal relação pode ser feita porque os filmes possuem uma tendência a tornar a figura feminina um ícone sexual totalmente superficial e com conteúdo fraco. No caso do longa, esse estigma é quebrado através de uma excelente atuação que entrega toda a proposta sensual sugerida.

A interferência da atriz na produção executiva do longa pode gerar esse aspecto, mas principalmente a utilização de diversos recursos para compor as cenas mais sensuais. O drama envolvente baseado em uma história rica em detalhes bem coordenados, sugerem esse estilo sem precisar expor as partes femininas ou diminuir a potência do gênero, quando acontece quando ela se resume a apenas um objeto de prazer.

Vale lembrar que Guadagnino marcou o cinema contemporâneo em “Me Chame Pelo Seu Nome” ao conduzir uma cena sexualmente chocante envolvendo um pêssego, apenas se utilizando do poder da sugestão.

Nas cenas mais quentes é possível ver que o jogo de câmeras foca no movimento e não no corpo da atriz. Esse notável efeito é contribuído por uma trilha sonora que intercala entre temas de suspense com clássicas músicas que conseguem gerar facilmente esse aspecto. Desse jeito, a produção se sobressai a muitas outras que não se atentam a detalhes importantes como esse.

Maus exemplos

Um exemplo é a produção Oppenheimer, que foi a grande vencedora do Oscar 2023 com diversas estatuetas inclusive a de Melhor Filme. A personagem de Florence Pugh representa um papel que foi desenvolvido apenas como um objeto. Apesar de sua grande influência na história e na vida do cientista, é possível ver que suas cenas são majoritárias nua ou em uma grande sensualidade. Apesar dela não ter a importância da protagonista de Rivais, é nítido que a atriz gera essa marca hipersexualizada, uma vez que quando ela representa a protagonista em “Não Se Preocupe, Querida” – que, mesmo dirigido por uma mulher – há o mesmo efeito.

A indústria cinematográfica ainda trabalha e luta contra certos estigmas como esse. É compreensível que há casos onde seja necessário algumas exposições, mas seu exagero gera um tabu desnecessário e se faz necessário fundamentar melhor esses tipos de cenas quando tratamos a posição da mulher. O cinema é reflexo da sociedade e por conta disso, precisa necessariamente refletir os avanços do potencial feminino que vai além de sua sensualidade.

Rivais é um longa que trabalha um drama repleto de tensões com uma intensidade intrigante. Além de abordar bem a figura feminina através da personagem de Zendaya, a produção exerce bem o papel de cumprir a proposta com uma história dramática sobre esporte, esforço, conquistas e ganâncias. A produção é um grande potencial para as premiações e boas reflexões ao longo deste ano.

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