Review | Sand Land é um bom primeiro RPG para novos jogadores

Quando se fala em Akira Toriyama, é difícil não ficar empolgado e com altas expectativas. Então quando um jogo adaptando o mangá Sand Land foi anunciado, os fãs do autor ficaram em êxtase. Mas será que o jogo foi feito pensando somente neles? É o que iremos descobrir nesta análise.

Toriyama é considerado praticamente uma entidade no mundo inteiro. O famoso mangaká criou obras que ganharam o mundo, como Dragon Ball e Dr. Slump, mas sua fama vai muito além de mangás e animes. Ele é o artista responsável por todo o design de jogos incríveis como Chrono Trigger e Dragon Quest. Sand Land é sua obra mais recente, que foi adaptada para um anime, lançado em março, e um jogo, lançado em abril, ambos de 2024. É uma pena que o autor tenha falecido pouco antes dos lançamentos, no dia 1º de março de 2024.

Sand Land foi desenvolvido pela ILCA e publicado pela Bandai Namco para as plataformas Playstation 5, Playstation 4, Xbox Series X / S e PC.

Agradecemos a Bandai Namco e nossa parceira Nuuvem pelo envio do jogo para análise.

A História

Assim como no mangá, o jogo conta a história de um país que foi assolado por uma guerra, catástrofes naturais e o rio que fornecia água aos habitantes secou. Com isso, o local virou um deserto chamado Sand Land. Essa região é comandada por um Rei, que possui um reservatório secreto de água, mas que não compartilha com a população, que sofre com isso.

No jogo, nós controlamos um demônio chamado Beelzebub, filho de Lúcifer, o Rei dos demônios. Logo de cara nós vemos que, apesar de ser um demônio, ele faz o bem, sempre tentando ajudar os outros demônios do seu vilarejo, que também sofrem com a falta de água. Tanto que a abertura do jogo mostra Beelzebub roubando o carregamento de água de alguns militares, para distribuir para a população.

Certo dia, um policial chamado Rao, aparece no Vilarejo dos Demônios dizendo que descobriu que o Rei possui um reservatório, e precisa de ajuda para encontrá-lo e distribuir para a população de Sand Land. Para convencer o Beelzebub a participar dessa aventura, ele oferece ao demônio um videogame. Lúcifer diz que ele pode ir, mas que vai poder jogar por apenas uma hora por dia.

Todo o jogo é muito bem humorado, com diversas piadas e cenas engraçadas, mas que não cai no erro de fazer isso em excesso, é tudo na medida certa.

A partir daí a aventura começa de verdade, e logo teremos todos os personagens principais liberados, sendo Beelzebub, Rao, o demônio Thief e Ann, uma garota misteriosa que esconde um grande segredo.

Mas a história não se passa só em Sand Land. Da metade do jogo para frente, uma outra área, chamada Forest Land, é aberta e lá temos que enfrentar um golpe de estado que aconteceu no local, para encontrar o antigo presidente do país, que está desaparecido. Esse local é o completo oposto de Sand Land, com muita água, árvores, e cidades mais povoadas. Essa área também é aberta para ser explorada, mas não é tão grande quanto o país de areia.

Gameplay

Sand Land é um RPG de ação em mundo aberto, onde temos que explora-lo para atingir os objetivos e descobrir seus segredos. Para isso, na maior parte do tempo, a exploração é feita por meio de veículos, que o jogador vai encontrando ou construindo ao longo da jornada. Cada um tem uma utilidade específica, como o Tanque para batalhas, o Saltador para alcançar lugares altos, a Moto para se locomover mais rápido, e por aí vai.

O combate é uma das partes que deixa a desejar. Depois de um certo tempo jogando, ele fica muito repetitivo, principalmente quando se está a pé. Enquanto jogava, sempre preferia abordar inimigos em veículos, principalmente no tanque, porque o combate é basicamente amassar botões. E, além disso, o jogo é fácil, mesmo na dificuldade mais difícil, e ele não te incentiva a usar as habilidades especiais que o Beelzebub e os outros personagens têm, porque elas se tornam desnecessárias.

Conforme o jogador ganha experiência e evolui, é possível abrir novas habilidades para todos os personagens na Árvore de Habilidades, sendo de combate para o Beelzebub e de suporte para os personagens secundários, mas durante o gameplay usava a habilidade uma vez quando era desbloqueada e depois nunca mais.

Outro ponto fraco do jogo é a questão de exploração. Todo objetivo que o jogo te passa é mostrado no mapa exatamente onde você deve ir, até em missões em que você tem que encontrar alguém ou algum item, o que torna o jogo um tanto fácil.

Também não existem itens colecionáveis para se achar no jogo. Em todos os baús que você encontrar vai ter itens para recuperar a vida do personagem, do veículo, ou peças que podem ser úteis para melhorá-los, mas são itens que você encontraria de qualquer jeito, apenas seguindo o caminho principal ou que estão disponíveis para comprar em diversas lojas pelas cidades do jogo, sem precisar explorar para conseguir mais itens.

Outro ponto negativo de Sand Land são as dungeons, que têm que ser exploradas em algumas áreas do jogo. São basicamente antigos templos em ruínas e naves destruídas que caíram na Terra, mas todas elas são extremamente parecidas entre si ao ponto de parecer que você está visitando o mesmo lugar diversas vezes ao longo da jogatina.

Conteúdo secundário

As missões secundárias em Sand Land também são extremamente repetitivas, que consistem basicamente em entregar um item para alguém, conversar com uma pessoa ou derrotar algum inimigo específico. Como são muitas missões secundárias, uma hora acaba ficando exaustivo. Apesar disso, é interessante fazer essas pequenas quests, porque com elas o jogador vai ajudar a reconstruir uma das principais cidades do jogo, que se torna o ponto de encontro de todos os personagens.

Uma das coisas mais legais do jogo é que, mesmo que para zerar seja preciso usar apenas quatro veículos, é possível construir muitos outros, já que tem diversos eventos de corrida ao redor do mundo de Sand Land, onde cada um vai necessitar de um carro ou moto de estilos diferentes. Não é nada que vai fazer o jogador gastar muito tempo nisso, mas é divertido de vez em quando parar de fazer missões e apostar algumas corridas, tanto pelo mundo desértico quanto em Forest Land.

Gráficos

O ponto alto de Sand Land são os gráficos, feitos completamente no estilo de desenho do Akira Toriyama. Ele tem todo o design de animes como Dragon Ball e demais obras do autor, mas também tem um estilo um pouco mais cartunizado, que funciona muito bem para transformar o estilo 2D usado em animes para o 3D dos videogames. A mesma coisa acontece em outros jogos desse estilo, como o game de Demon Slayer, que foi lançado em 2021.

Uma das coisas que Akira Toriyama mais gostava de desenhar nos seus mangás eram veículos, tanto que ele já chegou a fazer um desenho do Goku no carro de Fórmula 1 do Ayrton Senna, e aqui eles também são extremamente bem feitos. Muito detalhados até nas partes mais minuciosas, do jeito que o grande mestre ficaria orgulhoso de ver.

Então qualquer fã do Toriyama vai ficar deslumbrado com o design dos personagens, veículos e cenários ao longo do jogo, dando até uma vontade de voltar e reassistir os animes baseados em obras dele.

Considerações finais

Apesar dos pontos negativos, a jogatina de Sand Land foi muito prazerosa, a ponto de jogar várias horas seguidas sem perceber o tempo passar. A história principal também é muito bem contada e desenvolvida, fazendo com que o jogador fique interessado em descobrir o que vai acontecer a seguir.

Todos esses pontos, como a dificuldade e sempre apontarem onde o jogador deve ir, torna Sand Land um excelente RPG para quem quer experimentar esse gênero pela primeira vez, ou para quem nunca jogou videogame, mas tem interesse em Sand Land por gostar das obras de Toriyama. Porém para jogadores mais veteranos, a experiência pode ser um tanto frustrante, por ser tão fácil e não dar o senso de exploração que outros jogos de RPG em mundo aberto proporcionam.

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